5 regras básicas da fotografia minimalista

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O minimalismo, sem sombra de dúvidas, é um dos estilos mais elegantes que existe. Na verdade, ser elegante, na maioria das vezes, quer dizer fazer o essencial com perfeição. Acho que a gente não precisa esmiuçar as definições de minimalismo muito além disso pra entender bem o que é preciso fazer pra conseguir explorar muito bem a fotografia minimalista.

Porém, também é muito fácil confundir minimalismo com reducionismo, e o resultado, nesse caso, costuma ser coisas tão diminuídas que acabam perdendo completamente o valor. O segredo da coisa toda parece ser conseguir manter uma mensagem que seja forte ao mesmo tempo em que ela seja visualmente descomplicada. Não sei você, leitor, mas quando penso em minimalismo, eu imagino aquela foto clássica da Audrey Hepburn vestida de preto. Nessa foto, tudo é muito simples mas direto, harmonioso e no lugar certo. Esse é um bom ponto de partida pra esse assunto.

Minimalista não é a mesma coisa que vazio

O minimalismo, pelo menos na fotografia – em outras áreas pode ser um pouco diferente, quer dizer que a quantidade de coisas contidas na cena é o mínimo possível para que aquela ideia seja bem representada. Deve-se tirar tudo o que for acessório e meramente decorativo, incluindo formas, cores e texturas. Porém, é muito fácil incorrer no erro de fazer um quadro vazio.

Como eu disse ali em cima, o segredo fundamental do minimalismo na fotografia é a elegância, e ela emerge sozinha no momento que a gente acerta a quantidade correta de informação que põe na cena. Um outro ponto importante é que o minimalismo evita tensões. Ele é um estilo leve, feito justamente para evitar antagonismos de toda forma. Isso causa uma outra dificuldade, porque é muito difícil contar uma história que seja interessante sem tensão. Apesar disso, e vou tratar melhor desse assunto mais pro fim do artigo, pode haver minimalismo com tensão.

Porém, criar uma história interessante e sem muita tensão é relativamente fácil se você usar temas que inspirem ou que sirvam de reflexo para o expectador. Por exemplo, uma paisagem minimalista pode inspirar emoções como tranquilidade. Já uma foto como essa abaixo, que fiz num lago, pode servir como uma reflexão a respeito da solidão. A questão é que a tensão não está na foto, mas no observador. Esse é o segredo para a fotografia minimalista bem sucedida.

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Um exemplo de fotografia minimalista que deu errado

Se tem uma coisa que eu gosto de fazer é pegar fotos bonitas do Pixabay e mostrar que deram errado! Faço isso para que os leitores do blog percam a ilusão de que uma coisa tem valor só porque é bonita. A beleza é um valor fundamental, mas ela não é tudo e pode ser extremamente vazia, como é o caso abaixo. Temos o céu, a água, uma linha no meio, cores fluindo para o centro. Não tem tensão, mas também não tem história. Essa foto é vazia, não minimalista. Poderia ser minimalista se tivesse, por exemplo, um barquinho em algum canto, e isso contaria uma história interessante.

Image by Joel McGInley from Pixabay

É muito fácil entender esse negócio de vazio. Quando você olha pra foto, ela estimula a sua imaginação ou a esvazia? Pode ser que eu esteja acostumado demais com o pôr-do-sol, já que os fotógrafos estão acostumados a vê-los, mas uma foto dessas, pra mim, não estimula a imaginação.

Formas simples e fluidas

Como o objetivo é evitar conflitos e tensões dentro da cena, uma coisa muito importante na fotografia minimalista é que as coisas sejam contínuas e simples. Por exemplo, linhas que formem cantos podem ser problemáticas, porque todo ângulo reto é um acúmulo de tensões. Se o olho está indo numa direção e de repente surge outra linha com um ângulo muito agudo, o observador precisa tomar uma decisão de qual linha seguir. A gente não quer exatamente isso, que a pessoa tenha a atenção disputada pelas coisas. Portanto, um dos segredos é a fluidez.

Só que também não adianta muito ser fluido, mas com um número muito grande de elementos. Por exemplo, imagine uma linha com uma curva bem suave. Se ela faz só uma curva, que se parece com um arco, acaba ficando pobre demais. Porém, se ela faz um ‘s’ suave, fica bem mais interessante. Mas, se ela fizer mais curvas, começa a ficar sobrecarregado.

Também é preciso tomar cuidado com coisas que não combinam, porque elas também criam antagonismo e tensão. Por exemplo, algo com linhas curvas próximos de cantos retos. Os cantos já são, como disse ali, elementos naturais de tensão, mas quando colocados com algo ainda mais oposto, como formas curvas e suaves, cria-se ainda mais tensão.

A foto abaixo é um exemplo de que não basta usar somente formas simples para se criar uma fotografia minimalista, e isso é um erro bem comum. Ela é uma cena bem complexa, com muitos elementos em ângulos diferentes e sem nenhum centro de atenção. A boa fotografia minimalista tem que ter um centro de atenção.

Image by Артём Апухтин from Pixabay

Poucas cores

As cores também podem adicionar complexidade e tensão, e você pode aprender bastante sobre paletas de cor artigo aqui. Até agora, só usei fotos monocromáticas, mas é possível criar minimalismo colorido. Aqui, todas as ideias acima também se aplicam. Isso não quer dizer que não podemos usar core opostas para criar a composição, mas o ideal é que elas sejam bem suaves e planas, novamente, para evitar tensões desnecessárias. Além disso, elas precisam se articular bem na cena.

Essa foto abaixo é um bom exemplo das coisas que estou dizendo. Veja como as ondas formam curvas suaves mas não sobrecarregam a cena. As cores são complementares (laranja e ciano) mas atenuadas. O sol ali no fundo puxa um pouco a atenção, mas não demais. O equilíbrio, nesses casos é tudo.

Image by StockSnap from Pixabay

Um detalhe é, como eu disse, que o preto e branco não é, de forma alguma, mandatório na fotografia minimalista. Inclusive, tirar as cores não é garantia de que uma foto vá ficar minimalista automaticamente. Como venho insistindo nesse artigo desde o começo, o importante é o todo ter uma mensagem simples e uma articulação harmônica e elegante.

Texturas e detalhes

Já as texturas são ótimas em simplificar detalhes. Uma coisa deixa de ser um detalhe e passa a ser uma textura quando ela se repete num padrão mais ou menos identificável. Veja a foto abaixo, por exemplo. Há textura tanto na areia quanto na água. As coisas que formam a textura deixam de ser milhares de pequenas ondulações e passam a ser uma coisa só.

Image by Pexels from Pixabay

Tudo o que está na textura acaba contando como um elemento só. Porém, é preciso tomar um pouco de cuidado para não exagerar no contraste, porque isso cria uma tensão local entre os elementos que compõem a textura, e isso acaba sobrecarregando o expectador. Além disso, o contraste muito forte é outra coisa que não combina com a fotografia minimalista, porque ela causa uma sensação de rugosidade, aspereza, que é muito diferente de ser uma textura. Esse tipo de coisa acaba tirando a leveza da cena.

Porém, pode-se discutir se a fotografia minimalista pode ser leve ou não, e existem casos que talvez se enquadrem mas, pelo menos pra mim, parece que não combina muito bem. Não sei, talvez você tenha um opinião diferente. Ou talvez o minimalismo possa se reduzir a uma única contradição intensa.

Focar num assunto só

Qualquer que seja a conclusão do último parágrafo, o fato é que o assunto da foto precisa ser um só, e ele quase nunca vai ser o conflito entre duas coisas. Uma das regras de ouro da fotografia minimalista é justamente essa, manter o foco num único elemento. Aliás, aqui cabe um outro ponto interessante. A maioria das fotos minimalistas costumam ter tudo bem nítido e no foco. É meio raro ver alguma com fundo desfocado.

A foto abaixo é um bom exemplo de mudanças de direção intensas e muitas contradições, porém o assunto é justamente essas mudanças bruscas de direção, sempre usando as mesmas formas. Particularmente, não acho uma coisa muito agradável de ver, pra mim é bem desconfortável. Mas, não há como negar que ela cumpre bem todos os requisitos, e ninguém disse que toda arte precisa ser agradável.

Image by Reinhard Thrainer from Pixabay

Minha foto minimalista favorita

De todas as minhas fotos, acho que tenho poucas minimalistas. Mas a minha favorita é essa abaixo, e ela é um misto de minimalismo com abstrato, porque reduzi tanto as cores quanto as formas a um mínimo. Essa cena era um tablado de madeira que tem no Parque Ecológico aqui de Campinas. Sempre que alguém compra uma foto, além de prestigiar o meu trabalho, ainda ajuda a manter o blog funcionando!

Como aprender minimalismo

A fotografia minimalista não se resume a somente simplificar as coisas, mas é uma técnica sofisticada de transmitir uma ideia, muitas vezes profunda, através de poucos elementos visuais. Em suma, o segredo para conseguir sucesso nesse estilo é justamente saber qual é o ponto em que a coisa começa a ficar vazia. Uma dica meio póstuma nesse artigo é que o recorte é um aliado do fotógrafo minimalista, porque ele permite remover certos elementos da cena.

Esse, talvez, seja um dos segredos para aprender a ser minimalista. O negócio é pegar algumas fotos antigas, tentar identificar os assuntos e ir simplificando tudo. Começando com o recorte, depois mexendo nas cores e sempre buscando reduzir os elementos ao mínimo necessário, não só em número, mas também em forma e contexto.

Fábio Ardito

Pelo mundo atrás de treta.

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