Quem acompanha aqui o blog sabe que eu detesto o Instagram. O que tenho contra ele não é o formato de mídia, vídeos curtos, stories, reels e todo esse tipo de coisa que, muitas vezes, só transformam o Instagram numa verdadeira cracolândia virtual. O problema que quero tratar aqui é outro, até porque o formato da mídia não define o seu conteúdo e, apesar de parecer uma mistura de zona com boteco de rodoviária a maior parte do tempo, tem bastante gente que faz conteúdo que presta ali dentro. Então não estou me referindo às pessoas que estão ali, mas à própria plataforma.
O grande cresce mais
Em 2013, quando eu fazia meu doutorado em física, participei de um congresso da American Physical Society nos Estados Unidos. Uma das sessões era justamente sobre simulação de interações sociais. Nela, tinha gente importante de Google, Facebook e afins fazendo trabalho de pesquisa acadêmica sobre o assunto.
Como eu achei o assunto interessante, e já tinha até lido uns artigos acadêmicos sobre o assunto, aproveitei que a minha sessão não tinha nada que interessava e fiquei lá assistindo. Basicamente, todos os trabalhos apresentados mostravam resultados baseados em uma única premissa, que eles chamam de rich gets richer, que quer dizer ‘rico fica mais rico’.
O rico, nesse contexto, não é o que tem mais dinheiro, mas o que tem mais daquele recurso que se julga mais importante. Por exemplo, no caso de uma rede social, pode ser o número de seguidores. Então, o algoritmo é feito para promover exatamente as pessoas que possuem essas métricas. Até aí, nenhuma novidade, porque é exatamente assim que o mundo funciona. As pessoas costumam prestar atenção somente a um número pequeno de outras pessoas, é justamente por isso que existem as celebridades.
Ilusões antigas
O modelo rich gets richer é o mais usado porque é o que parece funcionar melhor. Só que ele é justamente o contrário do que acontecia na internet até uns 3 ou 4 anos atrás. A questão é que, no mundo real, a gente não consegue falar com 3 mil pessoas ao mesmo tempo, enquanto que, na internet, eu publico esse artigo e até o fim da semana mais de mil pessoas já leram.
Então, na verdade, o rich gets richer funciona muito bem onde as pessoas possuem poucos contatos entre si, como era no mundo antes de Facebook e Whatsapp. A gente falava com meia dúzia de pessoas, só. Quando surgiram meios de comunicação como chats, IRC, ICQ – e eu sou velho o suficiente pra ter vivido isso tudo em tempo real, a gente passou a conversar com uma quantidade de pessoas muito maior do que a gente podia imaginar.
Quando apareceu o Orkut, e depois o Facebook, começou a ficar corriqueiro alguém reunir dezenas de milhares de pessoas em torno de grupos de discussão. Naquela época, todo mundo tinha voz, e o motivo era simples, ainda não tinha nenhum rico pra ficar mais rico. Como as redes sociais eram novidade naquela época, elas ainda não tinham métricas e nem poder de processamento suficiente para definir quem eram os ricos e promovê-los. Só que isso mudou, principalmente, depois que o Instagram entrou em cena. E, se tudo nesse site estiver configurado certo, agora você vai ver uma chamada pro meu Instagram. Antes de me chamar de hipócrita, eu já vou dizer pra que serve o meu perfil naquela porcaria. Agüenta até o fim aí.
Como funciona o Instagram
Fiz duas investidas no Instagram, tentando conseguir mais seguidores. Afinal, o objetivo de quem ganha a vida online, como é o meu caso, é fazer dinheiro através de publicidade. É por isso que tem os banners de propaganda no blog, ou você acha que escrevo por caridade? Meus boletos vencem amigão, igualzinho os seus. Então, ter um monte de seguidores no Instagram é ótimo pra você promover os seus produtos, oferecer cursos, vender prints e esse tipo de coisa.
Na primeira vez, comecei a ir na força bruta, saí seguindo um monte de gente em nichos que eu achava interessante e boa. E só comecei a fazer isso por um motivo bem simples, a coisa simplesmente não andava organicamente. Não adiantava postar uma foto bonita por dia, o negócio não ia nem a pau. Então, fui na força bruta mesmo.
O resultado foi óbvio. Ele começou a me impedir de seguir mais pessoas e reduziu o alcance das minhas publicações a praticamente zero. De 250 curtidas por foto, caiu pra 10. E não era culpa da qualidade do trabalho, é que ele tinha parado de mostrar as coisas pras pessoas mesmo, o famoso alcance. Aí entra a questão, pra que servem os seguidores se o seu conteúdo não vai parar neles? Nesse ponto, abandonei a rede. Naquela altura já me parecia bastante óbvio que o Instagram é inútil para divulgação.
O alcance não depende de você
Então, recentemente parti pra minha segunda tentativa. Dessa vez, usei uma estratégia diferente, que é jogar as pessoas que passam aqui pelo blog pra lá. Assim, tenho um canal pra aumentar a interação com os leitores que são, na sua maioria, apenas gente que está aqui de passagem, e isso não me agrega muito como fotógrafo. Eu preciso que as pessoas saibam quem eu sou, não que elas leiam um artigo e desapareçam.
Isso funcionou enquanto o Google estava promovendo meu blog pelo Discover, que é um outro problema que eu talvez trate num outro artigo. Pra falar a verdade, essas coisas andam tão difíceis que eu já tô pra fechar o blog e ir fazer outra coisa. Enfim, fazendo assim vai parar bastante gente lá no meu Instagram, e aí consigo fazer amizade com os leitores e divulgar o meu trabalho de fotógrafo.
Só que, mesmo assim, o Instagram mantém o alcance das minhas publicações sempre o mesmo. Não importa quantos seguidores eu tenha, ele sempre mostra o conteúdo para os mesmos 20 ou 30. Então, comecei a estudar para ver o que dava pra fazer.
A resposta que mais encontrei, entre gente que, de fato, possui centenas de milhares de seguidores, é sempre a mesma. Tem que postar stories todo dia, reels quase todo dia, feed 3 vezes por semana, IGTV e live uma vez por semana. O problema disso é que é uma quantidade de trabalho monstruosa, e não basta apenas acertar na quantidade e na qualidade, tem que fazer do jeito que o Instagram quer.
Mesmo que você encontre um jeito criativo de fazer todas essas coisas interagir entre si, elas não vão funcionar se não estiverem de acordo com o que o Instagram espera que elas sejam. Ele simplesmente corta o alcance e pronto. Nessa minha segunda tentativa, fui isso que descobri.
Também fiz um monte de experimentos com horários, hashtags ,formatos, conteúdos… Simplesmente não há nenhuma correlação direta entre qualquer parâmetro e o número de visualizações. Quando digo nenhuma, quero dizer zero. Não é pouca correlação, é zero. O que isso quer dizer é que você pode fazer o que quiser, não vai adiantar nada se o algoritmo não for com a sua cara.
Como crescer no Instagram
Então, a moral da história é que você tem que produzir muito conteúdo. Stories, reels, feed, tudo isso consome muito tempo pra ser feito de acordo com o que Instagram espera de você. Isso sem contar que é preciso ser criativo, postar conteúdo que as pessoas vejam até o final. É praticamente impossível fazer isso todo santo dia.
Só que, se você não fizer, não vai crescer nunca. Sua conta vai ficar lá, estagnada, mesmo que você traga seguidores de fora. Inclusive, comecei a acompanhar várias contas de gente que cria conteúdo bom, que eu vejo tudo o que posta, e que simplesmente não crescem. Isso não quer dizer que não dê pra trabalhar, afinal uma plateia de 30 pessoas engajadas já é suficiente pra começar a ter resultados. Só que, se for pra falar pra 30 pessoas, talvez eu não precise da internet. Essa era a mágica dela, justamente falar para um público infinito, e o Instagram acabou com isso.
E, daí, eu volto ao título do artigo. Você é um fotógrafo ou um funcionário do Instagram, que tem que passar 8 ou mais horas do seu dia pensando e fazendo novo conteúdo só para continuar tendo alcance? Pior, quem quiser crescer lá dentro tem que fazer isso tudo sem ser remunerado, e ainda pode ser cortado sem nenhum aviso de uma hora pra outra. Basta não ser mais útil para o algoritmo.
Se você acha que estou exagerando, isso é exatamente o que muito especialista gringo vem dizendo. A quantidade de trabalho pra manter uma conta útil no Instagram é tão grande que muita gente tem desistido. Só fica os criadores de conteúdo que realmente querem muito estar lá. Já o usuário comum, que está lá só pra ver os amigos, postar um coisa ou outra, virou um ser insignificante. Dos dois lados, de produtores e de consumidores, o Instagram já não é mais vantajoso pra ninguém, talvez só pra quem curta ver mocinhas rebolando, o que deve aumentar ainda mais o efeito cracolândia.
E se eu pagar?
Ah, mas eu posso pagar por tráfego, e considero isso um custo do meu negócio, você pode estar pensando. Ok, é verdade, dá pra trazer gente pagando por elas. Mas isso não quer dizer que a sua audiência vá aumentar, e já conversei com muita gente que tentou fazer isso e se deu mal. A questão é que você traz seguidores, mas o Instagram só vai mostrar o seu conteúdo pra eles se você rebolar conforme a música. E se a gente for ficar o dia todo postando em Instagram, não sobra tempo pra fotografar, estudar, trabalhar as fotos, etc.
Se eu tivesse que apostar meu dinheiro nisso…
… e eu tenho, porque é o que eu faço pra pagar o filme das crianças. Minha aposta é a mesma dos especialistas gringos. Se continuar desse jeito, quase ninguém mais vai ter interesse em produzir conteúdo pro Instagram, e as pessoas vão começar a procurar outros meios mais fáceis.
As pessoas comuns, que só consomem conteúdo, provavelmente vão começar a enjoar também, porque é chato você ser massacrado por um monte de coisa das mesmas pessoas, o tempo todo. Isso sem contar que a sua capacidade de atenção é reduzida. Então, essa estratégia de mostrar um monte de conteúdo picado de 10 ou 20 pessoas pra cada usuário tende a tornar a coisa entediante e cansativa.
Só por contraste, veja o Youtube, por exemplo. Como conteúdo de vídeo é bem mais difícil de produzir, a maioria dos canais, mesmo os grandes, produzem, em média, um vídeo por semana. Isso é suficiente pra manter a audiência sem cansá-la. No fim das contas, o problema do Instagram é que ele é cansativo, e já estou vendo muita, mas muita gente mesmo, reclamando. E muita desistindo.
Então, a minha aposta é que o Instagram vai dar errado, pelo menos pra quem produz conteúdo de verdade. Como fotógrafo, eu não gasto mais meu tempo produzindo conteúdo exclusivamente para o Instagram. Quando eu faço qualquer coisa, se der, eu publico lá, Senão, prefiro gastar meu tempo fazendo outra coisa, tipo ver o filme do Pelé.