O Kodak ColorPlus 200 é um dos melhores filmes do mercado para quem gosta de efeitos artísticos. Suas principais características são o tom alaranjado, a alta granularidade e bastante variação do resultado em função dos parâmetros de exposição, oferecendo uma gama de efeitos realmente excepcional.
Ele costuma sofrer muitas críticas por conta da sua inconsistência mas, na minha opinião, é um dos filmes mais versáteis que tem, além de proporcionar efeitos muito bons, como mostrarei abaixo. Acontece que as pessoas medem a qualidade do material fotográfico pelos parâmetros da moda que são as cores ultra-saturadas, baixo ruído e alta definição.
O Kodak ColorPlus 200 foi o primeiro filme que usei e foi justamente a sua pegada vintage que me jogou no vício da fotografia analógica.
Pra melhorar, o Kodak ColorPlus 200 é o rei dos baratinhos. Aqui em Campinas pago 23 reais no rolo e se acha na internet mais ou menos por esse preço. Esse foi o primeiro filme que usei, e comprei dois rolos enquanto ainda estava na Itália. Lá, paguei 4,50 euros em um e 6 em outro. Havia comprado esse justamente porque era o mais barato e eu não sabia se a Pentax Z1 iria funcionar ou mesmo se eu ia saber usá-la direito. Não poderia ter sido mais surpreendido na vida!
A pegada vintage do Kodak ColorPlus 200
De todo modo, gastei um filme inteiro na Itália, mas mandei revelar somente aqui no Brasil. Veja aí alguns dos resultados. Honestamente, acho que se tivesse começado por outro filme, mais refinado, não teria ficado tão impressionado. Foi justamente a aparência de filme barato dos anos 80 que me fez gostar da fotografia analógica.
Explorando efeitos com o Kodak ColorPlus 200
Pra mim, o grande diferencial desse filme é quando ele é ligeiramente sub-exposto. Ele granula bem facilmente em condições de pouca luz e fica com essa aparência queimada em dias nublados. Na foto foto barquinho, apesar de estar em um dia claro, eu estava de costas para o sol e o fotômetro deve ter se baseado na intensidade do céu, por isso ficou um pouco sub-exposta e deu esse efeito. Portanto, um bom efeito para aprender a fazer com o ColorPlus é baixar a exposição em 2 ou 3 f-stops em dia de sol!
Dias nublados e aparência queimada
Em dias nublados ele já dá o efeito naturalmente, como nesta foto que tirei no centro de Perugia, na lateral da Catedrale di San Lorenzo. Essa é uma das minhas favoritas, sem sombra de dúvida. O efeito casou perfeitamente com o estilo da arquitetura medieval da catedral!
Como granular o Kodak ColorPlus 200
Já em condições de bem pouca luz, como na foto abaixo, dá pra conseguir esse efeito de pintura com uma resolução bem baixa. Isso ocorre porque ele consegue uma granulação extrema nos limites de exposição.
Também é possível conseguir granulação extrema mesmo com muita luz. O segredo é ter uma lente com uma abertura bem grande e fotografar com, pelo menos, velocidade 1/1000.
Veja como ficou a flor abaixo, apenas uma pétala está no foco porque usei a Pentax f1.4 aberta ao máximo e com a velocidade máxima da câmera. Um efeito bem impressionista e que fez bastante sucesso no Instagram.
Para nitidez máxima e cores vivas
Com bastante iluminação e a exposição na mosca, o Kodak ColorPLus 200 fica com o grão bem fino e com cores muito agradáveis, mas ainda com aparência dos anos 80. A resolução dele, com a iluminação ideal, é realmente impressionante, ainda mais pelo preço.
No pôr-do-sol
Também dá pra aproveitar bem os tons alaranjados do pôr-do-sol com esse filme, como na foto abaixo. Como ele tem uma latitude de exposição meio alta, agüenta bem imagens com muitas sombras e áreas bem iluminadas ao mesmo tempo.
O que é um datasheet?
Todos esses efeitos eu aprendi fotografando e prestando atenção aos parâmetros e condições do ambiente. Porém, se eu tivesse mais informações técnicas sobre o filme, poderia ter deduzido tudo antes de sair fotografando.
Por isso, foi atrás de um datasheet (data = dados, sheet = planilha), que é um documento que contém todos os dados relevantes sobre alguma coisa. Todo filme fotográfico possui uma série de parâmetros de fabricação que seguem a especificação do projeto e definem o seu uso e que devem estar contidas num datasheet.
Por exemplo, existem filmes com compensação de branco para lâmpadas de tungstênio, outros para suavizar os tons de pele e, outros ainda, para paisagens. Essas informações a respeito do melhor uso costumam ser encontradas facilmente no datasheet.
Além disso, existem muitas outras coisas importantes num datasheet de filme como, por exemplo, quanta sub ou super-exposição o filme agüenta, além de algum gráfico com a sensibilidade de cores. Entretanto, vou deixar para explorar mais esses assuntos técnicos em outro artigo!
Em busca do datasheet do Kodak ColorPlus 200
O fato é que eu estou atrás do datasheet do Kodak ColorPlus 200 faz uns 6 meses, desde que comecei na fotografia analógica. Até agora, tudo o que encontrei foi o datasheet do Kodak Gold 200, que seria o filme mais próximo. E aí entra o próximo passo da confusão, porque tem gente que diz que o ColorPlus e o Gold são o mesmo filme e tem gente que diz que não.
Em teoria, o Gold deveria ser um filme um pouco melhor que o ColorPLus, na faixa intermediária antes do Ektar e do Portra. Além do mais, pela aparência de foto velha do ColorPlus, é evidente que ele é de uma tecnologia antiga e, portanto, o Gold deveria ter uma aprência bem mais limpa, com grão mais fino e cores mais fieis. O fato de ter gente confundindo os dois é bem estranho.
Será que o Gold 200 e o ColorPlus 200 são o mesmo filme?
Uma das hipóteses que o pessoal dos fóruns gringos levanta é que, de vez em quando, a Kodak libera as emulsões dos filmes mais caros nos mais baratos, por questões de fabricação. Por exemplo,um dia faltou emulsão do ColorPlus e, para não parar a produção, usaram a do Gold 200, e aí vai ter gente achando que é o mesmo filme.
Um exemplo de que essas coisas realmente acontecem na indústria, é que eu tinha um Subaru Impreza fabricado no final de 1993. Rolava, na época, um boato de que esses carros usavam peças internas do motor da versão de rally, justamente porque a Subaru teve um problema de fornecimento nas últimas semanas de 1993. Para não parar a produção, que custaria uma fortuna, montaram os carros que estavam na linha com peças do motor de competição. Acontece que a gente desmontou o motor do meu Impreza e lá estavam o virabrequim e as bielas forjadas da STi. Tem horas que a gente dá sorte, né?
Um outro membro do fórum argumentou que a semelhança entre dois filmes diferentes podia se dar por conta de reagentes vencidos usados na revelação de um dos filmes. Com toda certeza, isso daria aparência de filme velho ao Gold.
Entretanto, eu mesmo nunca coloquei um Gold 200 numa câmera. Por conta disso, infelizmente, não tenho dados objetivos para fazer uma comparação.
Explorando as semelhanças com o datasheet do Gold 200
Entretanto, se as pessoas confundem os dois, significa que eles possuem parâmetros semelhantes, o que quer dizer que podemos pegar algumas informações do datasheet do Gold e usar como base. Uma das mais interessantes é essa aqui:
Isso quer dizer que você pode errar o ajuste do ISO desde dois para cima até três para baixo, ou abertura de três para cima ou dois para baixo, e assim por diante. Mesmo que se erre quase que completamente a exposição, ainda assim o filme agüenta bem.
É por causa dessa latitude de exposição toda que dá pra fazer os efeitos de granulação com ele. O tamanho do grão, em todo filme, depende da quantidade de luz recebida e por quanto tempo ela ficou em contato com o filme. Exposições muito rápidas, acima de 1/1000 granulam tanto o filme quanto sub-exposições em penumbra.
Porém, um filme com uma latitude menor que a do Kodak ColorPlus 200 ficaria claro demais ou escuro demais antes de conseguir a granularidade. Em fotografia artística, especialmente para quem tem um estilo mais impressionista, esse é um efeito importante. Entretanto, para coisas mais objetivas, como retratos, é melhor que o filme granule pouco, daí você não usa o ColorPlus.
Resposta espectral
Um outro dado importante é a resposta do filme para as cores primárias. Neste caso, ele usa amarelo, magenta e ciano. O gráfico abaixo mostra que o filme é mais sensível ao amarelo porque, além do pico ser mais largo, ele também é mais alto. Quer dizer que ele é sensível a mais tons de amarelo.
Mesmo as camadas sensíveis ao magenta e ao ciano têm caudas longas na direção do espectro amarelo, especialmente com picos lá no laranja, nos 400 nm. Entretanto, isso não é novidade. Esta é uma característica marcante dos filmes da Kodak e é por isso que a cor da embalagem é aquele amarelo queimado.
Portanto, acho que o jeito vais ser comprar um Gold 200 e fazer uns comparativos com o ColorPlus. De todo modo, apesar de desprezado por muita gente, o ColorPlus é um dos filmes mais legais do mercado, afinal fazer os efeitos que ele faz só controlando a exposição é incrivelmente legal.
Eu definiria o Kodak ColorPlus 200 como o filme mais impressionista do mercado.
Oi Fabio! Tudo bem?? Achei seu blog por pesquisando sobre o ColorPlus na internet. Sou iniciante na fotografia analógica, fazia quando criança e há uns 4 anos voltei a experimentar um pouco, com esse filme. Fiquei um pouco mais de 2 anos sem fotografar e agora fui procurar, e não acho mais esse filme, só na internet e a mais de R$100. O que aconteceu? Onde você comprava aqui em Campinas? Muito obrigada!
Ah, tá impossível achar esse filme mesmo. Depois do começo da pandemia ele sumiu do mercado. Pelo que sei, tanto a Kodak quanto a Fuji tiraram vários filmes de linha. Acho que o Colorplus foi um deles.
mt informativo, é bom saber que tem algumas informações de fácil acesso na Internet sobre filmes e câmeras analógicas, para mim que está começando ficaria mt grata de saber outros canais de informação sobre esse mundo
Tem o canal Camera Velha no Youtube. Eu comecei a estudar por lá.