Um dos assuntos mais atuais do meio católico brasileiro é, sem dúvida nenhuma, a questão dos abusos litúrgicos e as suas causas. Eu ousaria dizer que ele é o tema mais relevante de todos no meio conservador, especialmente o tradicionalista não só pela questão religiosa mas porque revela uma realidade bem mais profunda e difícil da situação cognitiva do povo brasileiro.
Toda vez que vejo alguém falando do assunto, a prosa se resume a dois tipos. Ou é algum compêndio de exemplos de abusos litúrgicos cada vez mais bizarros ou é alguma explicação de cunho teológico completamente equivocada, marcada pela linguagem tomística e com aquele ar de Doutor da Igreja.
A única coisa que as pessoas costumam acertar no diagnóstico da situação é quando dizem que os católicos não compreendem mais o significado da missa. Mas isso é tão óbvio quanto fazer um diagnóstico de cegueira em alguém que perdeu um olho. Tudo o que a gente não precisa nessa hora é de palpites inúteis.
Aliás, esse é um problema recorrente no meio católico, que é a incapacidade de compreender as situações em termos reais e um vício extremo de querer colocar tudo em palavras doutrinais, como se a realidade pudesse ser completamente descrita nos termos da suma teológica.
Não preciso dizer que essa também é uma deficiência cognitiva, mas vamos deixar esse caso pra depois. Estou interessado, pelo menos nesse artigo, no povão mesmo. Por que as pessoas aceitam fazer todo tipo de estripulia numa missa?
Habilidades básicas da inteligência humana saudável
Todo ser humano possui algumas habilidades cognitivas fundamentais que estão relacionadas com a própria noção de sobrevivência. Entre elas, uma das mais importantes é a capacidade de separar as coisas em categorias e determinar as afinidades entre os objetos.
Não é à toa que tendemos a separar tudo em categorias. Isso facilita a vida e permite descobrir quais são as características comuns das coisas, deduzir usos dessas relações e, eventualmente, reagrupá-las de alguma maneira mais proveitosa.
Vamos ver algum exemplo. Sejam as frutas. Podemos ter um grupo composto por melancias, maçãs e laranjas. Todas possuem características parecidas, especialmente o fato de serem alimentos doces e de origem vegetal. Todas têm cascas coloridas também. Ou seja, elas possuem características semelhantes suficientes para que sejam agrupadas confortavelmente em alguma categoria de coisas.
Se, nesse grupo, eu inserir uma máquina fotográfica, imediatamente você vai notar que ela não se encaixa ali. Tem alguma coisa errada, não? Uma máquina fotográfica não é um alimento, nem é necessariamente colorida, muito menos doce e tampouco de origem vegetal.
Entretanto, alguém pode chegar e dizer que todos são objetos inanimados, em sentido genérico, e aí esse conjunto estranho passa a parecer uma categoria legítima de coisas, apesar de desafiar o seu bom censo e soar extremamente desconfortável.
Essa categoria com coisas estranhas não te incomoda, mesmo sabendo que se eu mudar a definição elas passam a estar, de fato, numa mesma categoria?
Heavy metal para criancinhas
Claro que com esse exemplo tudo é muito óbvio. Mas podemos ir um pouco além. Vamos supor que façamos uma festinha infantil e que contratamos uma banda para animar as crianças.
É de se esperar que essa banda vá tocar músicas infantis. Não sei bem o que se tocaria hoje, mas vamos dizer que é algum cover da galinha pintadinha. Esperar que a banda chegue lá com algum tema parecido com esse é mais do que razoável.
Só que, quando a banda chega, você descobre que eles são uma banda de heavy metal. Acho que não daria muito certo, não? Indo falar com o vocalista (porque o baixista não manda em nada), ele te diz que, de fato, é uma banda infantil porque eles tocam heavy metal para criancinhas. Bom, até pode existir heavy metal para criancinhas, mas não combina, né?
Aquela situação toda seria, no mínimo, muito estranha. A festa estaria completamente arruinada, de certo. Já pensou naquelas criancinhas brincando enquanto a banda toca Roots Bloody Roots? Clica aí no link, ouve esse negócio uns 5 segundos e imagina uma festinha de criança com isso aí! É sério! Faz esse exercício!
Não foi profundamente estranho, até perturbador? Pois é. Não combina, né? Os abusos litúrgicos são exatamente isso, coisas que não combinam com a missa. Vejamos.
Coisas que combinam e coisas que não combinam
Ok, então vamos aplicar esse mesmo raciocínio à missa. Para isso, podemos partir de um dos significados mais comuns, que é celebração. No imaginário popular, celebração é uma festa para comemorar algo, tipo uma festa de podium de Fórmula 1. Fica lá um jogando bebida no outro, aquela gritaria e esse negócio todo aí.
Daí chega o cara para a celebração na igreja, ele vai fazer o quê? Festa, é óbvio. Aliás, você já notou que todo o repertório litúrgico oficial da CNBB parece música de festinha infantil? Não? Então ouça isso aqui, que é um CD oficial. Depois, ouça essa amostra maravilhosa do mais puro solvente mental infantil. Notou como é semelhante, tudo animado, infantil e uma cantora estilo The Voice? Não parece a bandinha da sua Igreja?
Muito bem, agora que sabemos que a música litúrgica oficial da CNBB entra na categoria de música de auditório infantil, vamos ver algo que pertence, tradicionalmente, à categoria de música litúrgica católica. Veja essa versão tradicional de Sanctus, executada exatamente do jeito tradicional. Agora (prepare-se), compare com a versão oficial da CNBB.
Então eu pergunto, e responda a si mesmo com sinceridade: as duas músicas possuem o mesmo tema, fazem parte da mesma parte da liturgia, mas elas pertencem à mesma categoria? Ou uma é fruta e outra é máquina fotográfica?
Vou mais além, a primeira versão é, sem sombra de dúvidas, música sacra. A segunda é o quê?
A musiquinha da CNBB simplesmente não combina com uma missa!
Não é uma questão moral ou de gosto, é simplesmente uma questão de pura inteligência elementar! Trata-se de saber o que combina com o quê!
A causa dos abusos litúrgicos é a falta de inteligência
É absolutamente impossível não chegar nessa conclusão quando se aproxima da questão pelo lado que mostrei. Honestamente, você acha que as pessoas fazem tudo o que fazem por maldade? Eu não acredito nisso. Realmente acho que a maioria é bem intencionada, só que idiota. Aliás, essa é uma combinação brutalmente mortal.
Quando se junta boas intenções, incapacidade cognitiva e motivação, alguém vai morrer. No caso da Igreja, quem morre tem a morte eterna, ou seja, o inferno. O que essas pessoas estão fazendo é se atirando no fogo.
Os brasileiros sempre estão deslocados da situação
Mas veja que esse problema não ocorre só na Igreja. Ele é a causa por trás de praticamente 100% dos problemas nacionais. Brasileiros sempre estão deslocados da situação e sem entender nada. Quando morei na Itália, conseguia reconhecer brasileiros a quilômetros de distância, literalmente, só pelo modo como se moviam e viviam berrando. Brasileiros não se encaixam em nenhum ambiente. Infelizmente, a Igreja é só mais um deles.
Portanto, não adianta ter a ilusão de que os abusos litúrgicos serão resolvido com aulas de YouTube, catequeses, explicações e campanhas de conscientização. O problema não está num nível racional, porque para ser racional é preciso que a mente esteja funcionando corretamente. Aliás, campanha de conscientização é somente um eufemismo para manipulação psicológica de massas.
Entretanto, acontece que o brasileiro não funciona direito. Ele tem essas deficiências cognitivas graves que tornam a compreensão de assuntos mais sutis literalmente impossível. É, de fato, uma impossibilidade física que um brasileiro comum entenda que violão não combina com missa.
Talvez você mesmo que esteja lendo esse texto não compreenda essa questão do violão, e é bem possível que tenha vindo parar aqui porque achou um absurdo alguém entrar com a hóstia na missa usando um drone. Mas saiba que para a avacalhação chegar no drone, ela começou com um violão e uma música de programa de auditório infantil com você balançando um folhetinho como se estivesse no Show da Xuxa. Se você não percebeu a sua participação nisso, não se preocupe, eu explico mais abaixo.
Padres e bispos são afetados pelos mesmos problemas
Como padres e bispos são provenientes do povo, é óbvio que eles possuem os mesmos problemas. Duvido que a grande maioria deles faça a mais mínima ideia do que esteja fazendo. A coisa mais patente em praticamente qualquer missa que existe por aí é que os próprios padres celebrantes não compreendem a situação em que se encontram.
Por exemplo, a missa é a continuação do sacrifício de Cristo. Portanto, enquanto a liturgia acontece, Cristo está morrendo na cruz. Isso é uma expressão literal, não uma figura de linguagem segundo o próprio dogma católico. Você pode não estar vendo com seus olhos, mas está acontecendo. Por esse ponto de vista, as coisas se tornam ainda mais evidentes. Você bateria palmas durante a crucifixação? Você tocaria músicas alegres de festa infantil enquanto Jesus Cristo carrega a cruz?
Isso nos leva a questionar se esses padres não sabem dessas coisas ou se não conseguem se posicionar corretamente na situação. Se eles não têm o conhecimento, ele foi perdido durante o seminário por algum motivo. Se eles têm, então ou são maldosos ou são burros.
Outra causa de abusos litúrgicos é a cisão entre personalidade e situação
Porém, antes de partir para a condenação, é preciso levar em conta que o diagnóstico da própria situação, ou a consciência situacional (situational awareness) do brasileiro é muito limitada. Brasileiros conseguem identificar corretamente a situação e conflitos morais dos outros com muita freqüência, mas têm dificuldades extremas em reconhecer seus próprios problemas.
Quantas vezes na sua vida você não viu alguém reclamando dos defeitos dos outros e em seguida fazendo exatamente aquela mesma coisa sem perceber? Ou, ainda, quantas vezes você não viu alguém sem a menor capacidade reclamar que os outros não conseguem fazer alguma coisa? Aposto que a maioria dos padres e fieis nem faça ideia do que esteja fazendo porque não são capazes de avaliar a própria situação.
O que mais conheço é gente que fica reparando na vida alheia, reclamando como ninguém toma providência com nada. Quando você questiona porque ele próprio não faz nada, aí o sujeito acha ruim. Conhecem a situação? Eu vejo o tempo todo.
O brasileiro vive numa realidade paralela, como se visse o mundo sem participar dele
O que isso quer dizer é que existe uma separação entre a personalidade e a realidade. Em outras palavras, é como se a pessoa estivesse vivendo numa realidade que é separada dela própria, onde os seus atos não possuem efeitos negativos sobre o mundo e ela pode observar a tudo e a todos sem interferência.
No fundo, esse é o princípio que serve de base para um dos esportes nacionais favoritos, que é falar da vida alheia. Só que isso aí é metade do problema. A outra metade é que a vida do próprio sujeito é tão ruim ou até pior do que a dos outros que ele está reparando. São coisas muito comuns, por exemplo, um cara desempregado reparando como o outro se deu mal na vida ou como a filha do vizinho troca de namorado com freqüência enquanto a própria filha tem três filhos de pais diferentes.
Essas coisas são corriqueiras no Brasil. Elas fazem parte da realidade diária. Por qual motivo você acha que isso não iria parar na missa? Pode notar que as pessoas que fazem absurdos durante a liturgia não parecem perceber que o fazem.
Uma vez, na Catedral de Campinas, uma pessoa foi atrás do altar tirar foto do padre durante a consagração. Você acha mesmo que ela tinha noção do que estava fazendo. Mas cabe perguntar, se ela tivesse visto outra pessoa fazendo a mesma coisa, o que teria dito?
Resumindo, há pelo menos duas causas cognitivas para os abusos litúrgicos
Uma é a incapacidade de discernir o que combina e o que não combina. Isso leva a comportamentos inadequados e à inserção de elementos destoantes que causam uma separação ainda maior entre a expectativa e a realidade. Como as pessoas não sabem que têm esse problema, elas tendem a agravá-lo repetindo a dissonância com força cada vez maior.
A segunda causa que eu listei aqui é a incapacidade de compreender a própria situação. A grande maioria dessas pessoas simplesmente não é capaz de entender que esteja fazendo algo errado enquanto está fazendo. Entretanto, essas mesmas pessoas conseguem encontrar falhas nos mesmos atos, desde que seja feitos por outras pessoas.
O brasileiro vê o mundo em terceira pessoa. Aqui faço uma pausa para pergunta especulativa: será que existe uma relação entre isso e a perda da segunda pessoa verbal na língua portuguesa falada no Brasil? Acredito que sim.
Existem muitas outras deficiências cognitivas graves que observo diariamente nas pessoas, mas isso daria um livro sobre psiquiatria de massas e fugiria do assunto dos abusos litúrgicos.
Soluções de curto prazo
Infelizmente, o único modo de controlar um rebanho que corre para o abismo é se os pastores ordenarem energicamente que parem. Entretanto, infelizmente, a cada dia constato que os padres brasileiros possuem os exatos mesmos problemas cognitivos que o restante da população, como já disse ali em cima.
Soma-se a isso a tal da obediência, que faz com que os padres que tenham alguma noção da situação deixem o seu rebanho desgovernado por medo de retaliações, não só dos superiores mas até dos próprios fieis, ao invés de fazer aquilo que é do seu dever. Pouquíssimos têm coragem de fazer o que precisa ser feito e aceitar a perseguição e o martírio tão desejados por todos os santos.
Fala-se tanto em santidade, mas esqueceu-se que os santos sempre são perseguidos e martirizados. Isso, talvez, faça parte da crise da inteligência porque o próprio conceito de santo foi reduzido para um simples não-pecador. No Brasil, todo mundo quer ir pro céu sem sofrer.
Entretanto, se a solução não vem dos padres, deveria vir dos bispos. Honestamente, aí é que a situação parece ainda pior. A própria CNBB é uma fonte incessante de profanações. Só aquele maldito CD de músicas litúrgicas deve garantir o inferno pra muita gente ali. Essas coisas são produção em massa de abusos litúrgicos. Pior ainda, eles ensinam às pessoas o exato oposto do que deveriam fazer. É, literalmente, uma anti-catequese.
“O caminho para o Inferno está pavimentado com ossos de padres e monges, e os crânios dos bispos são postes que iluminam o caminho.”
– São João Crisóstomo
Tudo isso quer dizer que o trabalho pesado ficou na mão dos leigos. A única solução é a organização de pequenas comunidades que prezem pela sua liturgia e zelem pela conduta do clero.
O tradicionalismo católico não faz parte da solução, mas poderia fazer
Existem, ainda, os grupos tradicionalistas que têm um zelo total pela liturgia e pelas tradições da Igreja, daí o nome. Entretanto, apesar de serem excelentes guardiões da liturgia, o seu grande problema é que eles não se comunicam com o mundo atual.
Basta dar uma olhada nos vídeos de padres desses grupos no YouTube. É bem óbvio que eles dominam a doutrina e levam tudo devidamente a sério, mas lhes falta a comunicação com a sociedade. Muitas vezes eu me pergunto quantas pessoas não sentem vontade de conhecer o catolicismo verdadeiro, que os tradicionalistas guardam tanto? O problema é que esse guardam fica mais no sentido de pôr numa gaveta.
Acontece que o trabalho pastoral é muito prejudicado pelo distanciamento excessivo do resto das pessoas, como se o pagão fosse contagioso. A bem da verdade, o grande problema desses movimentos é, de fato, o sectarismo. Não somente no sentido de direito canônico, como é o caso da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, mas no próprio modo como essas comunidades vivem.
Elas próprias tendem a se isolar do mundo e a se tornarem pequenas sociedades herméticas, onde todos precisam seguir certos moldes para serem aceitos. Aliás, parece ter sido essa justamente a causa do rompimento da Fraternidade com o restante da Igreja.
Os tradicionalistas precisam assumir o seu papel no combate
Reconheço o papel até mesmo heroico que esse movimento possui, o zelo com que guardam a tradição e a doutrina e como ensinam retamente a verdadeira prática da religião, mas eles precisam se reconciliar com a Igreja e, por conseqüência, com o mundo. Talvez eles não tenham percebido, mas essa reconciliação nunca foi tão urgente.
Entretanto, também há que se reconhecer que a tarefa de conversar com o mundo sem ceder a ele é extremamente difícil, e isso justifica a cautela com que evitam o assunto. Porém, o heroísmo, que falta tanto nesse país e principalmente nessa Igreja, consiste em arriscar a própria vida e honra pelos outros.
Na minha opinião, falta coragem. Infelizmente, muitos deles preferem se trancar em elucubrações tomasianas que os blindam da impureza do mundo com extrema eficácia. Uma pena. É como se tivéssemos um exército de elite inteiro que se recusasse a lutar porque o campo de batalha é sujo.
Apesar disso, dentro desse contexto que estou colocando nesse artigo, onde se encaixaria o tradicionalismo? Talvez justamente na apresentação da ordem através do exemplo. Muita gente não consegue ordenar a própria vida por falta de referência. Provavelmente, esse é o campo de batalha deles.
Católicos brasileiros são católicos só no nome
Entretanto, não estou falando só da reconciliação formal, mas também cultural. Afinal, o Brasil não é um país para fieis, mas para missionários. Precisamos com urgência de um exército de Padres Anchietas para converter os pagãos que habitam os edifícios da Igreja Católica no Brasil. As pessoas que guardam a tradição precisam criar um modo de dialogar com essas pessoas e convertê-las verdadeiramente.
Muitas vezes eu me pego perguntando se o problema dos abusos litúrgicos é que eles são de fato abusos ou se as missas não são missas, mas somente ritos pagãos que usam vagamente os símbolos católicos.
Há que se questionar se esses abusos litúrgicos são mesmo abusos ou se são parte da liturgia de uma outra religião que tomou o lugar do catolicismo
Infelizmente, isso me leva a concluir que a grande maioria dos católicos brasileiros precisa se converter. O catolicismo brasileiro, definitivamente, não é mais o romano. A conclusão inescapável é que essas festinhas infantis que fazem com as hóstias e as missas show não são catolicismo há muito tempo e que aqui já impera uma outra religião que usa a estrutura organizacional da antiga.
Os abusos litúrgicos são só a ponta do iceberg
O problema é que as pessoas não têm saúde cognitiva para perceber o buraco em que estão se enfiando. Quem poderia ajudar prefere se isolar. Isso é bastante compreensível, porque quando se mergulha um pouco mais a fundo nessas realidades, a sensação é de decadência completa.
Só que aí é que entra o pior da história toda. Todas essas limitações intelectuais fazem com que tudo seja vivido de forma superficial nesse país. Quando começa a se olhar o que realmente o brasileiro médio pensa da vida, aí a coisa desanda formidavelmente.
Infelizmente, quase todo mundo nascido nessas terras acaba sendo vítima de incontáveis incongruências internas. É muito comum brasileiros ter várias crenças conflitantes ao mesmo tempo, como acreditar em Nossa Senhora e no Chico Xavier sem nem cogitar a possibilidade de que haja uma impossibilidade lógica nisso. Esse tipo de comportamento vai gerando cisões de personalidade cada vez piores até levar a um quadro clínico de narcisismo ou de histeria.
Contradições mentais são a norma no Brasil
Já perdi as contas de quanta gente vi por aqui que conseguia se contradizer mais de duas vezes numa única frase. A mente do brasileiro médio é, literalmente, como um quadro do Hieronymus Bosch. Ou ainda, numa linguagem mais popular, a mente do brasileiro é uma foto de uma piriguete de biquíni empinando a bunda com um versículo bíblico moralizante condenando o adultério. Todo mundo já viu isso por aí, não adianta disfarçar.
O Brasil como um todo, e não somente a liturgia, depende de que se resolvam esses problemas psíquicos do povo. A meu ver, e não consigo escapar dessa conclusão, é que o Brasil sofre um surto psiquiátrico coletivo.
Atacar o problema dos abusos litúrgicos a partir do ponto de vista religioso, a meu ver, é totalmente inócuo. Ou você acha que um louco tem a capacidade de entender Santo Tomás de Aquino?
Depois de todos esses insights maravilhosos e originais, você bem que podia me dar cincão pra tomar um café, né?