PASQUALE ARDITO, de Polignano a Mare para Carioba

12/05/1867

24/12/1920

Por Celso Ardito

O FUNERAL

Na manhã de 25 de dezembro de 1920, um trem tracionado por uma locomotiva a vapor proveniente da capital chegava à Villa Americana trazendo o corpo do italiano Paschoal Ardito, alfaiate estabelecido em Carioba, 53 anos, deixando esposa e dez filhos. Familiares e um grupo de amigos presentes viram naquele dia o luto transformar a glória do Natal em cinzas. Um cortejo seguiu da estação da Companhia Paulista até o cemitério da Saudade onde foi sepultado (Q5S101).

Dias antes, embarcara para cirurgia num hospital em São Paulo para tratamento de um tumor que surgira no local de uma batida acidental na cabeça quando fechava a vidraça da janela na casa onde morava no Bairro Carioba. Antes de seguir viagem, disse para sua esposa Anna Maria Beato: “Vou, não sei se volto; peço que não se case novamente.” E assim aconteceu.

O INTERESSE EM CONHECÊ-LO

Conheci todos os meus tios, exceto o Antonio e o Paulo que já eram falecidos quando nasci. Muitas informações poderiam ser resgatadas durante a minha adolescência, mas um real interesse em saber quem foi este avô tão comentado, com um sobrenome tradicional na cidade, somente veio na maturidade, época em que estamos ocupados profissionalmente e deixamos para um segundo plano, até acreditando que sua história já estivesse de alguma forma registrada e de domínio público.

pasquale ardito
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O ESQUECIMENTO

Após um século decorrido desde a sua morte, o público em geral não tem conhecimento de sua existência, nem mesmo o Museu guardando as memórias específicas do bairro Carioba pôde perpetuar sua passagem por lá, constando apenas uma bela reportagem na década de 1930 da alfaiataria que seu filho, Paulo Ardito, deu continuidade. Do Paschoal Ardito nada constava.

Além da fotografia tirada na Rua São Caetano em São Paulo, nenhum documento pessoal restou. Tudo o mais, se existiu, virou cinzas. De objetos, tenho um relógio de parede alemão que o tempo não conseguiu parar e tive o privilégio de mantê-lo na sala de minha casa, ritmando as horas com suas badaladas pela madrugada.

Sempre que me apresentava como Ardito era frequente a pergunta: você é parente do Paschoal Ardito, aquele da Avenida no bairro São Vito? A informação que sabia, ainda da época de minha mãe, que também não chegou a conhecê-lo, era de que havia dois primos com o mesmo nome de Paschoal Ardito, e o meu avô era o de Carioba. Nas últimas décadas o público em geral não sabe que havia existido outro Paschoal Ardito em Americana.

Quanto aos filhos, genros e noras todos se foram. Do segundo escalão de descendentes ainda restam oito netos onde me incluo. Porém, nascemos em datas já distantes de sua morte e os nossos registros de nascimento comprovam a nossa descendência, porém, nada pôde efetivamente ser resgatado documentalmente pela sua memória. Houve ainda a contribuição de minha prima Romilda sobre a frase acima mencionada quando ele embarcou para a cirurgia na capital, história que era contada pela sua mãe, Rosa Diniz.

QUEM ERA PASCHOAL ARDITO?

Mas, dentre muitas perguntas, quem foi Paschoal Ardito – de Carioba? Sabíamos que era italiano, mas, de que lugar da Itália? Qual era a sua data de nascimento? Tinha irmãos? Como se interessou e chegou ao Brasil? Como se profissionalizou como alfaiate? De matéria publicada no Jornal “O Liberal” de 05 de outubro de 1997, os familiares do Paschoal Ardito do São Vito citaram que veio da cidade de Bari na Itália. Teria o Paschoal Ardito de Carioba vindo do mesmo lugar?

Por muitos anos tudo ficou sem resposta. Alguns parentes, que sabiam que procurava por reais informações, sempre me perguntavam se havia tido progresso na árvore genealógica. O passado do nosso Paschoal Ardito parecia impossível de ser resgatado por investigações simples e tudo parecia ter virado cinzas.

AS PRIMEIRAS PISTAS

A minha avó Anna Maria Beato tinha parentes radicados em Nova Odessa e era a filha mais velha dentre os quatro irmãos que vieram da Itália. Além disso, o casamento teria acontecido no Brasil. Então, poderia ter um registro de casamento no cartório. Porém, não havia nenhum registro no cartório de Americana, que começou a funcionar numa data posterior. Talvez, até pudesse não existir um documento devido a esta situação.

Não tendo nada a perder e com a data de seu falecimento que possuía, numa ocasião procurei o balcão de atendimento de um cartório de Registro Civil no centro de Campinas, onde sugeriram que procurasse o Cartório de Registro Civil Santa Cruz, localizado ali perto. Fui até lá e, sem demora, veio a resposta positiva. Consegui obter o registro de matrimônio de Paschoal Ardito e Anna Maria Beato descrito mais adiante. Não obstante estar de posse de valiosas informações, de sua origem constava apenas que era italiano.

Da mesma forma, procurávamos pela certidão de óbito. Nada foi encontrado tanto no cartório de Americana como no de Campinas. Também nada sabíamos sobre qual era o hospital em São Paulo e quem o acompanhou. Parece que tudo conspirava contra, pois os jornais da Capital na época noticiavam no dia seguinte os óbitos ocorridos no dia anterior.

Muitas horas de pesquisa on-line e nada; depois chegamos à conclusão de que, por ele ter falecido na véspera do dia de Natal, o plantonista do jornal com certeza não foi trabalhar naquele dia. Somente em 2018, meu filho pela necessidade de levantamento de documentação para requerer a cidadania italiana, após uma intensiva busca é que foi localizado num cartório da capital.

Um pouco antes, em 2015, quando já estava me conformando em ficar apenas com a certidão de casamento – que por si só já era um relíquia para mim – houve uma ajuda inusitada do meu primo Gilmar Galluccio, que incansavelmente procurava pelo registro de nascimento de nosso bisavô Rocco Galluccio em solo italiano e, sem que eu pedisse, se prontificou a fazer algumas buscas. Na segunda tentativa, me enviou um e-mail de presente: Paschoal Ardito havia nascido em Polignano a Mare na região de Bari em 12/05//1867.

Polignano a Mare – 28/11/2019

Desde então, milhares e milhares de registros italianos foram por mim consultados. Cinzas começaram a ser removidas e a história esquecida começou a ganhar vida, a ponto de descobrir enredos familiares de dois séculos atrás, tudo isto avaliados basicamente em datas e outras pequenas citações nos registros de nascimento, casamento e óbitos encontrados. Em 2016 disponibilizei os primeiros dados para algumas pessoas da família e agora estou tornando a fazê-lo, porém, com muitas outras informações que ainda não havia levantado na época.

A GENEALOGIA DA FAMÍLIA ARDITO

Os registros de nascimentos, casamentos e óbitos italianos foram obtidos no site BENI CULTURALI. Separei os núcleos familiares iniciando com os mais antigos e, a partir daí, montei a árvore genealógica até a partida de Paschoal Ardito para o Brasil.

Por outro lado, ficará claro para que qualquer descendente de Paschoal Ardito, tanto do São Vito como o de Carioba, possa se posicionar na árvore genealógica caso ainda não saiba. Os nascimentos, casamentos e a maioria dos óbitos sempre ocorreram no Comune de Polignano a Mare – Provincia di Bari – Púglia – Itália. Só existe um caso divergente, melhor dizendo diferente, que será abordado mais adiante e refere-se ao Vicente Ardito.

Outro ponto importante é o fato de que o mesmo nome era frequentemente repetido, às vezes dentro do próprio núcleo familiar. Por exemplo, era comum o filho de um Paolo chamar o próprio filho também de Paolo. Assim, era comum que avô e neto, por exemplo, tivessem o mesmo nome. Para distinguir uma pessoa de outra e até para facilitar a leitura, vou citar o nome do pai depois do nome, Na Itália, até hoje, as pessoas se identificam pelo nome dos pais. A título de curiosidade, somente em Polignano a Mare no período de 1809 até 1900 foram registrados 15 nascimentos com o mesmo nome de Pasquale Ardito. Aqui no Brasil é Paschoal Ardito.

O ANCESTRAL MAIS ANTIGO RESGATADO

Niccola Ardito casado com Mariangela Cianciarusi

gerou Vito Ardito

Nossa melhor fonte de informação foi o registro de óbito de seu filho Vito Ardito, onde é citado o nome de seu pai, Niccola Ardito, tornando-se o nosso ancestral mais antigo resgatado. Ele era casado com Mariangela Cianciarusi. Estima-se, pela data do óbito e idade de Vito Ardito, que Niccola Ardito tenha nascido no final do século XVII por volta de 1680-1690 e, embora não se tenha nenhuma comprovação, é muito provável que tenha nascido e falecido em Polignano.

Outro dado importante resgatado é que sua profissão era carpinteiro/marceneiro (falegname), profissão esta que foi transmitida por 3 ou 4 gerações. Em se tratando do assunto profissões em Polignano, a grande maioria (estimando aqui 80% da população) era de agricultores (contadino ou coltivatore), de forma que falegname era uma profissão mais técnica ao lado de pedreiro (muratore), ferreiro (ferraro), sapateiro (calzolaio) e alfaiate (sarto) sendo esta última adotada pelos sucessivos descendentes, incluindo o Paschoal Ardito de Paolo que aprendeu esse ofício com seu pai na Itália.

O REGISTRO MAIS ANTIGO EM POLIGNANO A MARE

Vito Ardito casado com Maria Lucrezia Basile

gerou Vito Niccola Ardito

Torna-se para nós o pivô de muitas linhas de descendências da família Ardito em Polignano. No registro de óbito consta que faleceu em 09/11/1811 aos 93 anos, e isto nos leva ao seu nascimento num dia do ano de 1718 e que sua profissão também era carpinteiro/marceneiro. Casou-se com Maria Lucrezia Basile e consta em seu registro de óbito sete filhos sobreviventes, a saber: Niccola, Giuseppe, Pietro, Antonio, Mariangela, Lucrezia Maria e Maria.

Não sabemos quanto aos filhos que já haviam morrido nesta data, porém, destaca-se o primeiro nome citado, Niccola. Era frequente não citarem o nome completo nos registros inclusive com erros grotescos nas idades das pessoas, de forma que poderemos concluir a partir de outros registros que este Niccola realmente se trata de Vito Niccola Ardito, trazendo uma mescla característica da atribuição de um arranjo com o nome do pai e avós nas descendências italianas, neste caso Vito do pai e Niccola do avô.

O BISAVÔ DO PASCHOAL

Vito Niccola Ardito casado com Anna Maria Bianco

gerou Pasquale Ardito

Provavelmente seja o primeiro filho do casal Vito – Maria Lucrezia Basile nasceu em meados do século 18 e casou-se com Anna Maria Bianco e atuou como carpinteiro/marceneiro a exemplo de seu pai e avós. Ainda não foi possível elencar os filhos do casal Vito Niccola – Anna Maria Bianco, mas citamos três deles que quebraram a hegemonia profissional na família, como veremos adiante: Vito Niccola Ardito de Vito Niccola, levando o mesmo nome do pai, Pasquale Ardito de Vito Niccola e Paolo Ardito de Vito Niccola. Paolo Ardito de Vito Niccola foi sacerdote em Polignano e faleceu em 31/10/1824 aos 40 anos, e há grande possibilidade te ter sido o primeiro filho do casal. As gerações anteriores não sabiam escrever e Paolo de Vito Niccola destaca-se numa presença constante como testemunha nos registros civis de Polignano, inicialmente com profissão de estudante e depois como sacerdote. A formalidade notarial da época em Polignano a Mare é que sempre compareciam dois declarantes nos registros ocorridos e, também, não era registrada a causa da morte. Portanto, via de regra, não sabemos do que morreram.

UMA DESCENDÊNCIA IMPORTANTE

Vito Niccola Ardito irmão de Pasquale Ardito de Vito Niccola

Nasceu por volta de 1785-1786 e possivelmente seja o segundo filho do casal Vito Niccola – Anna Maria Bianco. Em termos de grau de parentesco, Vito Niccola Ardito de Vito Niccola era tio avô dos Paschoal Ardito, tanto o do São Vito como o de Carioba. Porém, é uma pessoa que deve ser tratada aqui nesta retrospectiva, pois era ele que possuía os principais contatos sociais na comunidade, algo que classifico aqui como “funcionário do cartório”, e era subordinado ao sindaco, que é o prefeito do Comune. O preenchimento do campo “profissão” nos testemunhos de Vito Niccola Ardito de Vito Niccola vem sempre descrito como escrevente ou alfabetizado (scribente ou letterato).

Convém vincular aqui outra pessoa da comunidade de Polignano que foi Vito Giuseppe La Selva, que aparece na totalidade dos registros apenas como Giuseppe La Selva. Teve um papel importante nesta retrospectiva dos Ardito em Polignano. De profissão pedreiro (muratore) que me parece poderia representar também alguma atividade industrial e também como agrimensor (agrimensore), Giuseppe La Selva aparecia frequentemente nos registros civis como testemunha de nascimentos, óbitos e matrimônios, ao lado de um seleto grupo de pessoas alfabetizadas. Tudo indica que houve uma amizade muito estreita entre Giuseppe La Selva e Vito Niccola Ardito de Vito Niccola, ou pela frequência de sua presença no “cartório” onde provavelmente era atendido pelo Vito Niccola, ou pelo fato de que namorava sua filha mais velha (Marianna La Selva), com quem veio a se casar em 20/09/1811. Acrescente nisto um detalhe: seu irmão Pasquale Ardito no ano seguinte casa-se com a irmã de Marianna, a Maria Michele La Selva.

O AVÔ DO PASCHOAL

Pasquale Ardito casado com Maria Michelle La Selva

gerou

Vito Giuseppe Ardito pai do Paschoal Ardito do São Vito

Paolo Ardito pai do Paschoal Ardito de Carioba

Pasquale Ardito de Vito Niccola passa a ser a figura central dos vínculos de parentesco entre Paschoal Ardito do São Vito e Paschoal Ardito de Carioba. Pasquale Ardito de Vito Niccola e Maria Michele La Selva são os avós dos dois Pasquale. A exemplo de seus irmãos Paolo de Vito Niccola (sacerdote) e Vito Niccola de Vito Niccola (letterato), Pasquale de Vito Niccola assumiu uma profissão diferente de seus pais e avós e tornou-se alfaiate.

Entre os irmãos Pasquale Ardito de Vito Niccola e Vito Niccola de Vito Niccola deve ter havido uma união muito grande entre os dois trazendo em comum o mesmo sogro Giuseppe La Selva. Para um neto do Paschoal Ardito quero realçar um pouco sobre a vida daquela que foi a avó de nosso avô, nossa trisavó Maria Michele La Selva, se é que podemos chamá-la assim.

Segunda filha de Giuseppe La Selva, sua mãe, Annantonia Teofilo, morreu aos 40 anos em 07/08/1809, deixando os filhos Marianna com 18 anos, ela Maria Michele com 15, Anna com 12, Giovanna com 9, Saverio com 6 e Rosa Maria com 3. Seis meses depois, em 01/03/1810, seu pai Giuseppe La Selva casa-se novamente com Crescenza Modugno, viúva de Modesto Scagliosi, que falecera um ano antes, em 24/01/1809.

Podemos imaginar Marianna e Maria Michele assumirem a responsabilidade de criar os irmãos, principalmente as crianças Saverio e Rosa Maria (de colo), ao mesmo tempo em que substituíam a proteção materna por uma madrasta num curto espaço de seis meses. Nada se sabe sobre o relacionamento das famílias em si, mas, não são animadores pelos inúmeros casos que se conhece. Marianna, a irmã mais velha, já trazendo uma gravidez de sete meses, casa-se com Vito Niccola Ardito de Vito Niccola. Nove meses depois da chegada da madrasta, Crescenza Modugno, deve ter duplicado a responsabilidade de Maria Michele para com seus irmãos. Pareceu-me que, neste ínterim, ficou a presença não historiada de Pasquale Ardito de Vito Niccola ajudando Maria Michele nesta fase cruciante na sua adolescência.

Acredito que seja este o motivo da aproximação e namoro deles, e, então, aconteceu há duzentos anos aquilo que ainda hoje acontece frequentemente: Maria Michele também ficou grávida. Constatei que deveria ser da legislação vigente na época, que um filho somente poderia ser registrado formalmente, se houvesse uma união de matrimônio devidamente legitimada, caso contrário o filho era considerado natural, e, evidentemente sem o registro de paternidade Esta constatação foi vista num caso em que a parteira declarou o nascimento de uma criança nestas condições e cerca de um ano depois esta mãe conseguiu legitimar o casamento e, no próprio ato matrimonial, foi declarado que aquele filho de um ano antes era filho de seu marido agora legitimado; e ainda deu para perceber que o nome dado à criança um ano antes trazia o nome do avô paterno.

Mediante tudo isto, Maria Michele estava fadada legalmente a ser mãe solteira, e então, acredito que com a experiência de seu irmão Vito Niccola Ardito de Vito Niccola como escrevente do cartório, que também havia se casado às pressas, Pasquale Ardito de Vito Niccola tentou fazer o mesmo mas, pelo visto, a realização do casamento somente era possível no final do ano, e, inexoravelmente em 31/10/1812 nasce sua primeira filha Anna Maria Ardito. Seu registro de nascimento (resumindo em português) ficou assim: “ …nasceu na casa de Giuseppe La Selva, filha de Pasquale Ardito de Vito Niccola e Maria Michele La Selva, sua futura esposa…”. Em milhares de registros de nascimento que chequei daquela época, todos vinham com a descrição: “… nascido em sua própria casa (do pai declarante) e de sua legítima esposa (fulana de tal)… etc.”, sendo esta grafia “futura esposa” o único caso encontrado, isto porque com certeza já haviam sido publicados os proclamas de casamento.

Para piorar a situação, a mortalidade infantil da época era muito alta, a sua irmã Marianna há um ano havia perdido seu primeiro filho com apenas 2 dias, e em 26/11/1812 Anna Maria – a primeira irmãzinha de Vito Giuseppe Ardito de Pasquale Ardito e Paolo Ardito de Pasquale Ardito, também falecia com apenas 26 dias de vida. E o que estava programado foi executado: Pasquale Ardito de Vito Niccola e Maria Michele La Selva casam-se em 03/12/1812, sete dias depois da morte de sua filha. Isto é um resumo da história de Maria Michele La Selva desde quando sua mãe morreu aos 15 anos até o seu casamento com 19 anos.

O casal Pasquale Ardito de Vito Niccola e Maria Michele La Selva teve dez filhos:

NOMENASCÓBITOIDADECONJUGE
Anna Maria31/10/181226/11/181226 dias
Niccola I04/10/181317/07/18174
Vito Giuseppe15/06/181724/07/189073Maria Rosa de Donato
Niccola II15/02/182008/05/189070Marianna Simone
Paolo04/02/182301/04/187752Maria Crescenza Zupo
Anna Maria II25/11/182503/07/189772Giuseppe Giuliani
Annantonia17/10/182829/07/18357
Isabella24/10/183118/06/186734Vito Majellaro
Marianna12/09/1834?
?
Annantonia II30/01/1838?
?

No registro de óbito de Pasquale Ardito de Vito Niccola ocorrido em 28/06/1867 (aos 74 anos) consta que tinha seis filhos vivos: Vito, Niccola, Paolo, Anna Maria, Marianna e Annantonia. Consta cólera como causa da morte. Sua filha Isabella havia falecido 10 dias antes provavelmente em decorrência da mesma epidemia.

Maria Michelle La Selva faleceu em 11/03/1878 com 84 anos. O Paschoal Ardito de Paolo, ou seja, Paschoal Ardito de Carioba tinha 11 anos nesta época.

O PAI DO PASCHOAL ARDITO DO SÃO VITO

Vito Giuseppe Ardito casado com Maria Rosa de Donato

gerou Paschoal Ardito do São Vito

Vito Giuseppe Ardito de Pasquale era irmão de Paolo Ardito de Pasquale. Seu primeiro casamento foi com Anna Antonia Fruggis em 06/09/1841, que falece 5 dias após esta data. Não sabemos a causa de sua morte. O fato é que Vito Giuseppe Ardito de Pasquale volta a se casar novamente com Maria Rosa de Donato somente dez anos depois, em 13/07/1851. Desta comunhão nasceu em 15/12/1854 o Paschoal Ardito do São Vito e, conforme reportagem no jornal “O Liberal”, desembarcou no Rio de Janeiro em 1883 e posteriormente veio para Americana, conforme história descrita por sua família. Casou-se ainda na Itália com Maria Antonia Pellegrini e faleceu no dia 05/03/1930 aos 75 anos em Americana-SP.

O PAI DO PASCHOAL ARDITO DE CARIOBA

Paolo Ardito casado com Maria Crescenza Zupo

gerou Paschoal Ardito de Carioba

Poucas informações foram obtidas sobre Paolo Ardito de Pasquale Ardito, porém, sabe-se que nasceu em 04/02/1823 e casou-se em 04/04/1856 com Maria Crescenza Zupo, falecendo aos 54 anos em 02/04/1877 no endereço Via San Benedetto nº 6 – pode ser visto no Google Maps – sendo que Paschoal Ardito estava com 10 anos de idade nesta época. Paolo Ardito de Pasquale Ardito leva o mesmo nome de seu tio sacerdote e manteve a profissão alfaiate, agora herdada de seu pai e, também, adotada por seu filho. Maria Crescenza Zupo nasceu em 04/09/1831 e provavelmente faleceu depois de 1900. Certamente Paschoal Ardito despediu-se de sua mãe na Itália e nunca mais a viu, embora devam ter trocado correspondências que não temos notícias.

Casa que pertenceu à Família Ardito em Poligano a Mare. Hoje é uma loja de souvenirs.

O casal Paolo Ardito de Pasquale e Maria Crescenza Zupo teve 6 filhos:

NOMENASCÓBITOIDADE
Pasquale23/08/185707/09/18659
Maria Michele29/05/186118/04/18676
Modesto24/10/186423/01/18661
Pasquale II12/05/186724/12/1920 no Brasil53
Maria Michele II08/10/187004/01/18732
Maria Michele III15/05/187302/02/18784

Observando-se as datas diretamente no quadro acima, vemos que em quase dez anos de casamento uma trajetória desastrosa foi imposta pela vida retirando do casal Paolo Ardito de Pasquale e Maria Crescenza Zupo todos os seus três primeiros filhos voltando o lar a ficar vazio. Menos de um mês depois nascia Pasquale (o Paschoal Ardito de Carioba) reacendendo a luta da vida que seguia. O Paolo Ardito ainda seria golpeado com a morte de sua segunda filha, Maria Michele, em 1873. Após 21 anos de casamento, para Maria Crescenza Zupo ainda estava reservado amargar a morte de seu marido Paolo Ardito em 1877, com a incumbência de sustentar os dois filhos que lhe restaram: o Pasquale com 10 anos e a Maria Michele III com 3 anos. Não bastasse tanta desgraça, um ano depois viria a óbito Maria Michele III, então com 4 anos. Nestes anos após a morte do marido Paolo Ardito, Maria Crescenza Zupo além de dona de casa exerceu sua profissão de costureira (filatrice) ao lado de seu único filho Pasquale.

O SEGUNDO CASAMENTO DE MARIA CRESCENZA ZUPO

Voltando no tempo com outra história, vivia na comunidade de Polignano a Mare o cidadão Vito Modesto L’Abbate, também alfaiate, que casou-se em 05/02/1858 com Maria Lucrezia Seripierro e o Pasquale Ardito de Vito Niccola – pai de Paolo Ardito – foi um dos padrinhos deste casamento que durou 22 anos até a morte de Maria Lucrezia, em 26/04/1880. Nesta ocasião, dos 11 filhos de Vito Modesto L’Abbate, apenas dois estavam vivos: Maria Mádia com 6 anos e Vito Pietro com 17 anos.

Acredita-se que deveria haver uma parceria no ramo de alfaiataria envolvendo profissionalmente o Pasquale Ardito de Vito Niccola, Paolo Ardito de Pasquale e Vito Modesto L’Abbate. Com isto as famílias de Paolo Ardito e Vito Modesto L’Abbate usufruíam fortes laços de amizade. Da viuvez de Maria Crescenza Zupo desde 1878 e agora do Vito Modesto L’Abbate bem recente, a união das partes seria uma honrosa contribuição para angariar forças e continuar a vida. Em 20/09/1880 consumava-se o casamento entre L’Abbate e Maria Crescenza. Neste momento centrando no Pasquale – o Paschoal Ardito de Carioba – que estava com 13 anos, a nova família ficou assim constituída: sua mãe com 57 anos, o recém padrasto Vito Modesto L’Abbate, com 51 anos, e mais os seus dois filhos, Vito Pietro L’Abbate com 17 anos e Maria Mádia L’Abbate com 6 anos.

Com a morte de Vito Modesto L’Abbate em 28/09/1890, esta nova união teve a duração de dez anos e não tiveram filhos. A Maria Mádia L’Abbate faleceu dois anos antes do pai, aos 14 anos. Deste estudo não sabemos que destino tomou Vito Pietro L’Abbate, na ocasião com 27 anos. Depois da experiência de 10 anos como enteado, Pasquale Ardito estava novamente sozinho com sua mãe. A partir daqui sabemos apenas que Maria Crescenza Zupo ficou na Itália e o Pasquale Ardito tomou a decisão de emigrar para o Brasil para constituir aqui a sua família e estabelecer a sua alfaiataria.

Além do desfecho sofrido em toda a sua infância e adolescência, muito provavelmente a sua decisão teve a participação do seu primo Vincenzo Ardito que pelos registros italianos já havia preparado a transferência de sua esposa e filhos para a chamada América. Comentaremos do Vincenzo Ardito mais abaixo.

Não foi encontrado registro que realmente documentasse a sua chegada no Brasil. Os registros pertinentes ao Museu da Imigração em São Paulo davam conta das pessoas que chegavam em Santos sem uma qualificação profissional, e este não era o caso do Pasquale Ardito. Algumas lembranças desvinculadas dos descendentes levam a crer que veio sozinho para o Brasil, tendo chegado em São Paulo em 1891 e muito provavelmente foi recebido pelo seu primo Vincenzo.

OS FILHOS E NETOS DE PASCHOAL ARDITO DE CARIOBA


FILHOSCÔNJUGENETOS
1Maria CrescênciaAntonio BoninAgenor
2JulietaPedro RandoEnzo, Isaura, Ada, Zico, Odete e Elza
3PauloCarolina RosaPaschoal
4ElviraJosé JakutaviciusDébora
5HelenaFélix RollAlbertina e Alfredo
6RomeuRosa DinizEliud, José, Romilda, Romeu Fº e Eleni
7RosaAugusto GalterAbiude, Odete, Vilma e Regina
8AntonioFaleceu com 21 anos
9MariaLuis Antonio CasattiWalter, Valdir, Jorge e Elza
10AristodemoRita GallucciAry Paschoal, Luis Carlos, Israel e Celso

SOBRE O VICENTE ARDITO

Vicente Ardito era primo de Paschoal Ardito e esta afinidade de parentesco, curiosamente, não era da linha de descendência da família Ardito. Vicente (Vincenzo), embora nascido em Polignano a Mare em 17/11/1859, era filho de um outro Pasquale Ardito (cuja descendência nos é desconhecida) e de Isabella Zupo, que era irmã de Maria Crescenza Zupo – a mãe do Paschoal Ardito de Carioba.

Seu pai e ele eram profissionais na área de fogos de artifício. Vincenzo casou-se na Itália com Maria Vittoria Oliva, que estava grávida quando veio ao Brasil pela primeira vez, para implantar seus negócios fundando uma fábrica de fogos em São Paulo no bairro Casa Verde. Retornou à Itália para buscar a esposa e filhos. Mais tarde o Paschoal Ardito de Paolo viria sozinho para o Brasil, pelo que se pode deduzir.

Observando o teor da certidão de óbito e de outras informações em registros de Polignano a Mare, Vicente e Paschoal partilharam suas juventudes na Itália e mantinham estreitas ligações aqui no Brasil.

DOCUMENTAÇÃO

CERTIDÃO DE NASCIMENTO

“COMUNE DI POLIGNANO A MARE – PROVINCIA Di BARI

ESTRATTO DI NASCITA

UFFICIO DELLO STATO CIVILE

ESTRATTO PER RIASSUNTO DESUNTO DAL REGISTRO DEGLI ATTI DI NASCITA

Il giorno dodici del mese di Maggio dell’anno milleottocentosessantasette alle Ore zero e minuti zero in POLIGNANO A MARE è nato ARDITO PASQUALE, sesso Maschile, figlio di ARDITO PAOLO e di ZUPO MARIA CRESCENZA come risulta da atto N. 91 PARTE I SERIE UFFICIO 1 REGISTRO 1 ANNO 1867 registrato a POLIGNANO A MARE. 09/04/2018 L’UFFICIALE DELLO STATO CIVILE”

CERTIDÃO DE CASAMENTO

DESCRIÇÃO INTEIRO TEOR

Acto de casamento de Ardito Pasquale e Anna Maria Beata

Aos vinte e cinco de Novembro de mil oitocentos e noventa e três, nesta cidade de Campinas, Distrito Santa Cruz, em sala do cartório de Paz à mesa do Doutor Quirino, em numero vinte e três, as uma e meia horas da tarde, presentes o Juiz de Paz e casamentos, cidadão Bento Quirino dos Santos, comigo Escrivão e Official de seu cargo adiante nomeado, as testemunhas Caetano Pellegrini, com trinta e dois annos d’idade, negociante e residente neste Distrito e Doutor Candido Serra Netto, com trinta e três anos d’idade, lavrador e residente neste Distrito; e satisfeitas as exigencias legaes ao acto, receberam-se em matrimonio segundo o regimen commum os contrahentes. Ardito Pasquale e Anna Maria Beata, aquele com vinte e seis anos d’idade e esta com quinze anos; ambos italianos, solteiros e residentes neste Distrito, sendo filhos legítimos: o primeiro de Ardito Paulo e Maria Crescencia Zuppa, aquele falecido n’Italia, onde esta reside; e a segunda de Beato Antonio e Breda Rosa, residentes neste Distrito. Em firmesa de que Eu José Rodrigues Martins da Cunha, Escrivão e Official lavrei este acto que vai para todos assignado, fazendo à rogo da contrahente por não saber escrever – Vicente Fimme e à rogo da primeira testemunha pelo mesmo motivo – Francisco Chiantero, tudo depois de lido.”

CERTIDÃO DE ÓBITO

DESCRIÇÃO INTEIRO TEOR

Aos vinte e sete dias do mez de Dezembro de 1920, nesta cidade de São Paulo, no districto de paz da Bella Vista, em cartório compareceu Vicente Ardito, fogueteiro, residente nesta Capital à Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, numero quatrocentos e sessenta e quatro, que exhibindo attestado medico do Doutor A.C. de Camargo, declarou que: no dia vinte e quatro do corrente, as dezesseis horas, em prédio do Instituto Paulista, deste districto, victimado de tumor cerebral sarcoma, falleceu o Senhor PASCHOAL ARDITO, com cinqüenta e tres anos de idade , de cor branca, natural da Itália, alfaiate, residente em Villa Americana neste Estado, filho legítimo de Paulo Ardito e de Dona Maria Crescencia, era casado com Maria Ardito, de cujo consorcio houve os filhos seguintes: Crescencia, com vinte e seis annos de idade, Julieta, com vinte e quatro annos, Paulo, com vinte e dois annos, Elvira, com dezenove annos, Helena, com dezoito annos, Romeu, com dezesseis annos, Rosa com quatorze annos, Antonio com doze annos, Maria, com dez annos e Aristodemo, com nove annos de idade.O finado não deixa bens e vae ser sepultado no cemitério municipal de Villa Americana em Campinas, neste Estado.”

SOBRE O DOUTOR A.C. DE CAMARGO

Antonio Cândido Camargo (1864-1947) nascido em Campinas-SP obteve doutorado em medicina em Genebra e foi um dos fundadores do Instituto Paulista – hoje Hospital de Clínicas – e trouxe do exterior os melhores conhecimentos para cirurgia e tratamento de câncer e ainda é referência na área de oncologia. Deduz-se que o Paschoal Ardito recebeu o melhor tratamento médico de sua época.

O brasão dos Ardito tem ao centro um pássaro voando em direção ao sol a partir do fogo.

Na mitologia grega esse pássaro é a Fênix que num processo interior de combustão ressurgia das cinzas após a sua morte

PREFÁCIO DO NECROLÓGIO

Durante a minha vida sempre crescia o interesse e a vontade de conhecer sobre o meu avô Paschoal Ardito e conforme este interesse crescia os fatos acima vinham se avolumando no clima de uma realidade perdida que estava sendo resgatada. Diante da impossibilidade de estar frente a frente com ele, fazendo uso da imaginação nada impede que neste momento me transporte no tempo unindo-me ao cortejo de seu funeral e na presença de todos fazer um breve resumo de sua vida.

NECROLÓGIO

O Paschoal Ardito trazia consigo dois grandes símbolos e uma virtude. Um símbolo era da madeira e o outro do tecido, herdados de seus antepassados via genética. Um observador desatento atribuiria à madeira a qualidade de um simples pedaço de pau e ao tecido apenas um pano qualquer. Mas, a madeira quando trabalhada alicerça vigorosas estruturas enquanto o tecido atribui a elegância ao conjunto pela magia de seus cortes. Assim como a madeira é trabalhada com serrotes, formões e martelos, o Paschoal Ardito durante a sua infância e adolescência passou pelo crivo de semelhantes ferramentas impostas pela vida e ainda na Itália quando atingiu a sua maioridade tomou a decisão de se estruturar e em meio às contingências de sua época emigrou para o Brasil radicando-se na Villa Americana ainda distrito de Campinas-SP, mais precisamente no Bairro Carioba. Curiosamente Carioba, que em tupi-guarani significava Pano Branco, abriu neste local sua alfaiataria trazendo para os seus tempos dourados a elegância dos ternos italianos.

Quando veio da Itália o Paschoal Ardito trouxe em sua bagagem as ferramentas de sua profissão e ainda que seus primos já estivessem estabelecidos no Brasil, optou em realizar-se independentemente. Podemos notar que não deixou propriedades a inventariar, porém, deixou-nos a herança da virtude da idoneidade transmitida de pai para filho e que tanto nos honra. Um código de leis não substituía o brilho de um acordo seu firmado no fio do bigode.

Seria ingenuidade de nossa parte interpretar sua última frase na estação de trens de Villa Americana pedindo para sua esposa não casar-se novamente, como se fosse renovado ali o voto de fidelidade. Naquele momento, numa fração de segundos, reuniu todas as passagens dramáticas de sua vida quando deixou a Itália numa sequência de óbitos em que restou apenas ele e sua mãe Maria Crescenza Zupo além dos tristes momentos em que ele mesmo e sua avó Maria Michele La Selva passaram como enteados. Aqui no Brasil, que maravilha, tinha dez filhos todos vivos e aí compreendemos que seu pedido era garantir a segurança da família que construiu.

Vivenciando o simbolismo do brasão dos Ardito, ainda que com alguns poucos resíduos das cinzas, saí do futuro retornando 100 anos para que o Pasquale Ardito de Carioba pudesse incorporar a mitologia da Fênix e trazer a sua memória de volta para a luz do sol presente, deixando um legado de entusiastas toda vez que mencionamos o seu nome: Paschoal Ardito.

Americana, 21 de dezembro de 2020.

Celso Ardito

Filho de Aristodemo e Neto de Paschoal

celsoardito@gmail.com

Fábio Ardito

Pelo mundo atrás de treta.

Este post tem 3 comentários

  1. Claudio

    Muito legal essa história e ver a sua dedicação em buscar as raízes familiares, parabéns.

  2. Leandro Ardito

    Sou bisneto de Nicola Ardito (de Francesco Paolo Ardito.

    Fiz um extensa pesquisa online entre 2018 e 2019 nos mesmos sites italianos citados neste seu texto maravilhoso e o desta forma consegui achar nos registros da Comune de Polignano a Mare o registro de nascimento do Nicola Ardito nascido em 04/01/1883 na casa da Via Porto n° 48, e a partir daí iniciar os trâmites que hoje fazem de mim e todos os Ardito meus familiares legítimos Italianos devidamente reconhecidos! Fiquei fascinado à época com a pesquisa que eu fiz e mais ainda, hoje, ao ler este texto magnífico do Celso Ardito aqui no site do Fábio Ardito que, com muito orgulho e honra, respeitosamente chamo de MEUS PRIMOS! OBRIGADO e PARABÉNS PELO EMPENHO!

    Saudações de Leandro Ardito Sanchez, (linhagem de Francesco Paolo Ardito (Polignano a Mare, 1856) – Nicola Ardito (Polignano, 1883) – Rosa Ardito (SP, 1919) – Salustiano Ardito Sanchez (SP, 1947).

    1. Oi Leandro, tudo bem? Que grande satisfação encontrar mais um Ardito! Agora precisamos descobrir a nossa história antes do século XIX!
      Um forte abraço!

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