Eu já sei o que vou ser quando crescer, um fotógrafo de natureza e paisagens como o Nigel Danson. Se você não conhece esse cara, está perdendo seu tempo! A especialidade dele é fazer essas fotos épicas de natureza e paisagens e, vendo seus vídeos, listei quais são as 3 maiores habilidades que é preciso ter para fazer um trabalho desses. Nenhuma das três é sobre fotografia em si.
Mas, nesse ramo, não basta saber todas as técnicas e ter todos os equipamentos, que nem são tantos assim também. Na verdade, ir lá fotografar é uma parte minúscula do trabalho. Para conseguir aquelas fotos com nuvens, nevoeiro e cores que parecem de outro mundo, é necessário casar uma série imensa de fatores que, muitas vezes, não dependem do fotógrafo. Por exemplo, uma foto como essa abaixo tem que ter as nuvens abaixo do cume da montanha, tem que estar no horário certo, na direção certa, na época certa do ano. E ainda tem que chegar no topo da montanha.
Só aí já deve ter dado pra notar que a tarefa é bem mais complexa do que parece. É preciso estudar o cenário com muita antecedência e planejar muito bem a viagem. E isso não se resume a fotos em lugares espetaculares. Sempre que saio fotografar aqui na minha cidade, tento ir nos dias que as condições estejam favoráveis. Sair fotografar num dia comum é uma das piores coisas que tem. Aliás, prepare-se porque tomar chuva é a coisa mais normal do mundo pra quem quer fazer essas coisas. Talvez por isso, a gente devesse começar por esse tema. Então vamos lá, porque essas são algumas habilidades necessárias para fazer fotos absolutamente épicas e que você não vai achar num livro de fotografia.
Meteorologia
O pior tipo de clima para fotografar é um dia de sol, no verão com céu azul e limpo. Um dia que as pessoas achem lindo para passear, na foto vai sair a coisa mais sem graça do universo. Pra uma foto ser épica, é preciso ter algo mais. Na verdade, ela tem que mostrar a força da natureza, e ela aparece justamente quando a gente fica diminuído por ela. Pode reparar, as melhores fotos de paisagens e natureza são as que possuem algum fenômeno meteorológico, por isso a gente tem que ter a habilidade de saber fazer esse tipo de previsão. Por isso, entender um pouco de meteorologia é uma das habilidades essenciais para conseguir tirar fotos épicas de paisagens e da natureza.
Nevoeiro
O nevoeiro é um dos efeitos mais clássicos da fotografia de natureza épica. Ele dá aquela sensação de sublime que uma imagem sem ele realmente não tem. Toda boa foto de paisagem tem algum tipo de nevoeiro, seja uma garoa fina, seja neblina ou, até mesmo, a chuva. Quando a gente tem muita humidade no ar, a luz vai sofrendo desvios quando passa pelas minúsculas gotículas de água que está no seu caminho. Esse fenômeno é chamado de difusão, e é ele que causa a sensação de embaçamento.
Os nevoeiros acontecem sempre que a umidade relativa do ar está acima de 90%, são muito favorecidos quando tem pouco vento – daí as gotículas de água podem se acumular; e quando tem poucas nuvens, porque a falta de cobertura faz com que a temperatura caia. Aliás, a temperatura também um fator crucial, e quanto mais baixo melhor. Então, a dica com relação ao nevoeiro é esperar pelo inverno, mas tem que ficar de olho pra pegar aquelas situações em que o clima não esteja muito seco.
Teto de nuvens
O teto de nuvens é um termo muito usado na aviação, tanto que a melhor definição está no site da ANAC, que diz a seguinte coisa:
Altura acima do solo ou da água, da base da mais baixa camada de nuvens, abaixo de 6000m(20.000 pés) que cobre mais da metade do céu.
Ou seja, o teto de nuvens é quando forma aquela camada bem densa a uma altitude meio baixa. Essa informação é importante para quem quer fazer fotos do topo de montanhas e picos, porque aí dá aquele efeito ultra f&*da de colchão de algodão.
Se pegar com o sol nascendo ou se pondo, então, aí é gol de placa. Quem já pegou avião nesses horários deve ter visto como fica. Os sites de meteorologia costumam dar o teto de nuvens no local. O segredo é tentar pegar os dias que ele estiver mais baixo. Esse tipo de fenômeno também pode ser bem aproveitado mesmo pra quem mora na cidade, e em baixas altitudes. Por exemplo, esses tempos teve um chamado ‘cobertor de nuvens’ aqui em Campinas, e eu nem reparei!
Tempo nublado e garoa fina
Esse é um bom substituto pra quando falta nevoeiro. A vantagem do tempo nublado é que a luz é difusa pela cobertura de nuvens, e chega aqui em baixo bem suave. É aí que a gente consegue um bom efeito de luz macia, mesmo fotografando ao meio dia. Sempre que o tempo fica assim aqui, eu comemoro. Por exemplo, dá uma olhada nessa foto que tirei aqui em Campinas. Num dia de sol essa é uma cena totalmente sem graça.
A garoa também ajuda a criar esse clima mais interessante pra foto. O problema é que sempre que chove, eu tomo chuva porque saio fotografar. Mas é a vida, e quem quer se destacar tem que fazer o que os outros não estão dispostos.
Encontrar lugares
Sem saber encontrar lugares, você não vai a lugar algum, literalmente. O fato é que quem faz fotografia de natureza e paisagens precisa estar sempre procurando novos lugares pra ir experimentar, por isso que essa é mais uma das habilidades essenciais pra conseguir fotos épicas da natureza ou de paisagens. Porém, hoje isso não é problema, e tá aí o Google Maps e as redes sociais pra ajudar bastante a gente.
Entretanto, encontrar bons lugares para fotografar dificilmente começa num mapa. O negócio mesmo é prestar atenção nos grupos de viagens e passeios e também nesses perfis no Instagram. Geralmente, as pessoas passam por esses lugares e tiram foto de qualquer jeito com o celular, só pra mostrar pros amigos. Esses dias eu achei um lugar magnífico pra ir fotografar justamente porque vi umas fotos mal tiradas com o sol a pino desse lugar. Agora é só ir no mapa, encontrar o lugar, analisar as estradas, ver como chega, analisar as orientações e começar a preparar para pôr o pé na estrada.
Além disso, nesses perfis também se acham dicas valiosas. O fato é que não basta encontrar o lugar no mapa, tem que saber chegar até ele. E quando chegar lá, ainda vai ter que procurar qual é o melhor lugar para fazer a composição. E já se prepare, porque se você estiver indo para pegar num nevoeiro, vai ter que andar um monte no frio e na chuva.
Tava achando que a vida é facil? Porém, nesses grupos e perfis você vai encontrar as pousadas que essas pessoas ficaram, e lá eles vão te saber indicar como chega nos lugares que você viu nas fotos. Então salve essas fotos para pesquisar quando estiver em campo. Também pesquise bem o relevo do lugar, e estude como faz para chegar nas partes mais altas, no caso das regiões montanhosas.
O mesmo tipo de coisa vale para o litoral, também. Lembro quando estive em Búzios e comecei a seguir o litoral pelas pedras, por fora das trilhas. Ali tinha um monte de cavidades nas rochas e lugarzinhos escondidos que, com toda certeza, dariam fotos incríveis. Infelizmente, na época, eu ainda não fotografava. Pelo menos deu pra aprender uma boa lição.
Mas o fato é que, independente do lugar, é a população local quem vai poder te dar as melhores dicas. Então é sempre bom ir com um tempo extra pra conversar com as pessoas. Falando em tempo extra, nunca ache que vai chegar lá e já conseguir tirar as fotos perfeitas. Os melhores horários de iluminação costumam durar poucos minutos e ocorrem duas vezes por dias. Pode ser que precise de várias tentativas.
Astronomia
Essa é mais uma das habilidades essenciais das fotos épicas que quase ninguém lembra que existe, mas ele é determinante nas condições do ambiente. Não é preciso dizer que tudo o que acontece no clima é praticamente determinado somente pela ação do Sol. As estações do ano, por exemplo, só acontecem por causa da inclinação do eixo da Terra e por causa do seu movimento em torno do Sol. Além disso, a altura máxima que o Sol atinge depende da latitude e da época do ano, e isso influencia, também, na cor do céu durante a alvorada e o crepúsculo. Os horários que esses eventos acontecem também são determinados por fatores astronômicos.
A fase e a posição da lua também são outras coisas importantes a se levar em conta. Não somente porque ela pode ou não aparecer na composição, mas porque ela também tem influência nas marés, por exemplo. Além disso, mesmo não aparecendo no quadro, ela pode mudar radicalmente a iluminação do local dependendo da fase que esteja. Tudo isso parece complicado, né? E é mesmo. Porém, existem muitos apps de astronomia que permitem calcular as posições dos astros na data e local que você escolher, como o Stellarium. É sempre bom dar uma simulada pra saber o que vai encontrar.
Pra quem gosta de temas mais ligados à astrofotografia e foto noturna, o que tiver no céu no dia é determinante pro resultado final da foto, mas esses aí já estão ligados no tema.
Hiking e preparo físico
Depois de todo esse estudo e planejamento, você ainda vai ter que juntar toda a sua tralha, carregar nas costas e chegar no lugar desejado. Como as melhores condições para fotografia costumam ser as piores para um ser humano se deslocar num lugar que nem sempre é fácil de andar, as coisas tendem a se complicar bastante. Só pra ter ideia, tem que levar a câmera, o tripé e mais alguns suprimentos, como água e comida. Só isso aí já dá uns 5 kg que tem que levar na mochila. Por isso, saber algumas coisas sobre hiking é uma das habilidades mais importantes que você vai precisar para poder fazer essas fotos épicas da natureza e de paisagens.
Pra complicar ainda mais a situação, um fotógrafo é um cara que gasta muito sapato. Tem que andar, andar e andar até achar o lugar perfeito. Tem que revirar tudo e depois ainda ir e voltar umas três vezes em cada lugar pra fazer as tentativas. Então, se você quer entrar nesse ramo, já vai começando a fazer um bom preparo físico. Eu diria que é uma boa ideia ser capaz de andar uns 20 km por dia carregando um peso de 10 kg.
Além do condicionamento, também é preciso saber outras técnicas de hiking, afinal, muitas vezes, as melhores fotos estão em lugares difíceis de chegar. Então é bom saber se orientar com um GPS, não depender do celular e ter uma boa noção de direções no espaço. Também é crucial investir em equipamentos de segurança, porque é bem fácil se meter em encrencas nesse tipo de circunstância.
Conclusão
Dar o click em fotos épicas da natureza é só um passo (e nem é o último!) de uma cadeia de processos que exige uma longa preparação, muito estudo e algumas habilidades que não estão ligadas à fotografia. Como tudo na vida, se fosse fácil qualquer um faria, e essas fotos espetaculares quase nunca são feitas por alguém que estava a passeio no lugar. Elas são o produto de uma longa cadeia de estudo, prática e planejamento.
Se você gostou desse artigo, não deixe de dar uma conferida no resto do blog. Também pode me seguir no Instagram, que lá eu faço conteúdos que não tem aqui! E também lembrando do curso básico, o Mestre das Fotografias, que pode te ajudar a organizar o seu aprendizado. Um abraço e até a próxima!