Encontrar o seu próprio estilo, e fazer dele uma marca registrada, é um dos grandes desafios da fotografia, e de qualquer outra arte. No fundo, o que faz a arte mesmo é a personalidade do artista, e o estilo é justamente a impressão digital dela. Porém, para encontrar o estilo, o artista tem que aprender a falar com a alma e, pra isso, é preciso ter certeza que, de todas as coisas que ele conhece, é aquele conjunto que gera exatamente o resultado que ele espera.
Ter estilo significa, na prática, ter um controle consciente daquilo que se deseja expressar. Pra isso ser verdade, só sabendo fazer muitas coisas e escolhendo só aquelas que te interessam. Inclusive, fica aqui uma crítica a um costume que se tem muito aqui no Brasil. O sujeito só consegue fazer uma coisa de um jeito, e chama aquilo de estilo próprio. Na verdade, isso não é estilo, é só falta de competência mesmo. Só dá pra chamar de estilo o que poderia ter sido feito de um jeito diferente e não foi. Acho que já deu pra entender o ponto.
Então, no fim das contas, pra encontrar o seu estilo, você precisa adquirir muita experiência, estar aberto às experiências que aparecerem e tentar de tudo um pouco. Esse mundo é um grande rascunho, e não tem como chegar na obra final sem um longo e árduo caminho. Até pessoas com grande talento, como um Van Gogh, passaram anos no anonimato aprendendo a sua arte. Essa é uma lição valiosa, sem humildade não se tem estilo.
Quem você quer ser quando crescer?
Se você não tem uma resposta pra essa pergunta, então precisa começar a pensar seriamente sobre o assunto. Sem um norte, um destino, simplesmente se está a deriva e não tem como chegar a lugar algum. É preciso descobrir qual é o destino para só depois definir as etapas da viagem. Só que isso é uma coisa bem difícil. Não é todo mundo que já nasce sabendo exatamente o que quer ser, na verdade, essas pessoas são raríssimas.
Não tem como ter um estilo próprio sem ter um objetivo, porque ele é a parte mais importante daquilo que vai definir o que você é. Mas não se preocupe se você ainda não sabe. A única coisa que tem que ser feita é procurar novas experiências. Uma hora elas se acumulam em número suficiente e aí te dá um estalo. Apenas não pare até ser capaz de dizer, em um único parágrafo, qual é o objetivo da sua fotografia. Aliás, é por isso que se diz encontrar e não criar um estilo.
Aumentar o número de habilidades
Portanto, a primeira coisa a ser feita para encontrar seu estilo na fotografia é tornar-se um eterno estudante. É preciso aprender todas as técnicas possíveis que possam impactar o seu trabalho. Uma coisa que eu sempre ouço das pessoas mais próximas, quando confrontadas com alguma coisa nova que elas precisam aprender é ‘ain, mas eu num curto’. Amigão, tá todo mundo c@ag@ndo pro que você curte. Se você tem um trabalho a fazer, você tem que ir lá e fazer.
Por exemplo. eu detesto retratos e fotos de gente. Pode ver que não tem um único mísero artigo sobre isso aqui no blog. Eu detesto com força mesmo. Nada contra, questão de gosto e o meu é esse. Se quiser me matar é só obrigar a fazer pre-wedding, ensaio newborn, grávidas, temas sociais e afins. Morro de depressão ou me mato fazendo essas coisas. Mas tenho estudado retrato, porque é uma coisa que eu preciso fazer para a minha carreira. Pode ser que eu nunca faça essas coisas mais comerciais, mas também pode ser que seja necessário. Nesse caso, é engolir o orgulho e ir lá aprender a fazer.
Mas o fato é que cada coisa que você aprende é uma ferramenta a mais na sua caixa. E cada uma delas pode te ajudar, mais tarde, na hora que cair a ficha sobre o que você precisa realmente fazer para chegar onde quer. Então, não tem jeito. Tem que estudar tudo o que aparecer, aprender a fazer o máximo de coisas e estar sempre aberto a coisas novas. O estilo, tanto na fotografia quanto em qualquer coisa, vem com o tempo e com a experiência. Pode ver que são bem raros os casos de artistas cuja obra-prima foi a primeira ou a única da carreira toda.
Dominar todas as técnicas
Agora imagine um pintor famoso executando uma obra prima. Ele vai colocando a tinta da cor certa, nos lugares corretos, com o pincel correto, etc. Existe uma técnica para montar a paleta de cores, outra para manter os pincéis limpos, outra para manipular o pincel, uma outra para fazer os traços corretos e assim por diante. Há um verdadeiro universo de pequenas técnicas que vão se juntando até que o artista seja capaz de expressar exatamente aquilo que ele quer.
O livro que usei pra aprender foi o ‘Stunning Digital Photography‘, do Tony Northrup, mas ele só está disponível em inglês e também é outro bom ponto de partida. O fato é que, independente do material que você escolher para estudar, só depois de gastar um tempinho dominando a câmera é que vai começar a fazer, de fato, as fotos que queira. Antes disso, era tudo questão de sorte. Depois não, começa a ser tudo planejado, e encontrar o seu estilo na fotografia é isso.
Aprender as regras
‘Ain, na arte as regras têm que ser quebradas’. Quem nunca ouviu essa leseira aí? Então, né. Só que é o seguinte amiguinho, pra quebrar as regras elas precisam existir. E quem diz isso também não entendeu do que de fato se trata. Nenhuma regra de arte é uma lei rígida, são apenas guias que definem um ou outro estilo. Por exemplo, você não pode chamar sua arte de minimalista se ela não tiver um número bem limitado de coisas, conforme já expliquei nesse artigo aqui.
Além do mais, como nada pode ser tudo ao mesmo tempo, quer dizer que um estilo é uma delimitação dos elementos que o compõem. Já dei o exemplo do minimalismo ali em cima, mas vamos ver mais um. Por exemplo, a arte abstrata, que também já tratei em outro artigo. Se eu tiro a foto de um cachorro, eu posso classificar isso como uma fotografia abstrata? Acho que não, né?
Então, indo na mesma linha do que venho defendendo nesse artigo todo, a experiência é a palavra chave, e aprender esses pequenos conjuntos de regras que delimitam cada estilo é bem importante. Essas são mais algumas ferramentas que vão pra sua caixa, e você vai adquirindo cada vez mais experiências para compor o seu próprio conjunto de regras, que é o seu próprio estilo.
As pessoas têm dificuldade de entender que ter estilo é ser livre justamente por seguir as próprias regras. Isso não era dificuldade no tempo de Santo Tomás de Aquino, porque naquela época se entendia que a liberdade consiste em fazer somente aquilo que é possível e positivo. As regras surgem exatamente no momento em que as coisas vão para o lado que não podem, e elas servem justamente para redirecionar as coisas.
Quando você encontra o seu próprio estilo, parece que esse conjunto de limitações já não existe mais, porque você naturalmente, conscientemente e de vontade própria as segue, e isso é a verdadeira liberdade. Portanto, encontrar o próprio estilo, seja na fotografia ou no que for, é como que encontrar um fluxo próprio que simplesmente flui.
Encontrar inspirações
Essa é outra coisa que é extremamente importante, porque existem pessoas que provavelmente já fazem aquilo que a gente gostaria de fazer, então o negócio é ficar de olho e aprender com elas. Ter artistas de referência é uma ótima ideia, porque eles mostram o que é possível. Seguindo os passos que coloquei ali em cima, isso é importante justamente porque você pode ir copiando o estilo pra aprender a fazer. E pode ir descobrindo as regras que compõem cada um deles.
Por exemplo, tenho seguido bastante alguns fotógrafos ingleses, como o Nigel Danson, o Sean Tucker e a Rachael Talibart. Eles condensam bem o estilo de fotografia que eu gostaria de encontrar, e estudo tudo o que posso sobre eles. Inclusive, muitos artigos aqui do blog são inspirados em aulas do Danson e do Tucker, e todo mundo tem gostado bastante. Recebo muitos elogios sobre os artigos em toda a parte. Fora que escrever sobre eles incorpora o estilo que eu quero aprender na minha personalidade, e eu já consigo fazer muitas das coisas que eles ensinam.
Por isso, eu sempre recomendo que você gaste um tempo procurando esses artistas que podem te inspirar. Além disso, nesses artistas está as coisas que te fascinam. Por exemplo, um outro que gosto muito é o Fan Ho. Um elemento constante em todos esses que falei é o nevoeiro, a neblina. E isso diz muito sobre o que eu gostaria de fazer. Acho que, quando eu puder – e não falta muito, vou gastar uma temporada na Inglaterra fazendo essas coisas.
Olhar para outras artes
É sempre muito importante fazer o intercâmbio entre coisas diferentes, porque isso também aumenta bastante o leque de coisas que a gente pode incorporar ao nosso estilo de fotografia. Por exemplo, quem gosta de fazer fotografia épica pode aprender muita coisa com compositores que tratam desse tema, como Sibelius. Quem faz temas religiosos pode aprender muito com Pergolesi.
A fotografia, como toda arte, depende de se ter uma ampla vivência cultural. E não basta qualquer cultura, é preciso aprender sempre com os mestres, de todas as áreas. Você precisa compreender os mestres da literatura, da música, da poesia, do teatro, da culinária e de todas as artes imagináveis. Aprender coisas de países e lugares diferentes, de religiões diferentes. Mas também é preciso dominar e estudar a fundo os temas de onde você vive, conhecer a fundo e de onde surgiram cada uma das coisas que você acredita.
Encontrar o próprio estilo quer dizer deixar o seu eu profundo falar conscientemente através da sua fotografia e, pra isso, ele precisa ser desenvolvido ao máximo. E isso inclui uma ampla vivência de todas as coisas, com intensidade. O artista é o cara que anda no mundo procurando expressar as coisas que as outras pessoas não conseguem, mas precisam dizer.
O aprendizado é longo, mas a recompensa é grande
Acho que deu pra entender a mensagem, né? Encontrar o próprio estilo e ser original é uma longa caminhada, com um monte de experimentação, tropeços, fracassos e sucessos. Todo grande artista passa por isso, porque seria diferente com a gente? Não deixe de me seguir no Instagram, porque lá sempre tem bastante material que não tem aqui no blog! Um abraço e te vejo por lá, e por aqui também!