Como dominar a exposição com o modo manual

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O modo mais fácil de usar uma câmera fotográfica é a prioridade de abertura, e certamente é verdade. Mas, conforme a gente vai pegando prática, vai descobrindo que, muitas vezes, acontecem situações que os modos automáticos da câmera não funcionam muito bem. Não é muito raro eu me pegar indo pro modo manual da câmera, porque muitas vezes ela se confunde ou não entende o que eu quero fazer. Aí, a saída é usar o modo manual para acertar a exposição.

Outro dia, também escrevi que bons fotógrafos não usam o modo manual da câmera. Na verdade, a frase correta seria que bons fotógrafos não são bons só porque usam o modo manual da câmera. O bom fotógrafo é o que fotografa bem independente do método, e não existe nenhum particular que torne alguém automaticamente melhor que a média.

De todo modo, no artigo de hoje vamos esmiuçar como se usa o modo manual para conseguir sempre a exposição mais perfeita possível, do jeito mais simples possível. Pra isso, vamos ter que dar uma passada pelo básico, então segue firme aí.

O que é a exposição

Em fotografia, exposição é o termo que se usa para indicar qual é o conjunto de parâmetros que faz com que a luz que chegue no sensor ou filme seja suficiente para formar uma boa imagem. Se chegar pouca luz, a cena fica escura, se chegar muito, ela fica clara. O que define uma boa exposição é justamente o equilíbrio entre essas duas coisas, e ela depende de alguns fatores da câmera, que já vamos ver.

Porém, nem sempre o efeito é uniforme no quadro todo. Muitas vezes, uma parte é muito escura e outra é muito clara ao mesmo tempo, como é o caso da foto abaixo, que tem bastante jogo de sombra. É justamente nessas circunstâncias que as câmeras costumam tomar decisões erradas, e é aí que o modo manual vira parte fundamental do acervo de recursos que o fotógrafo tem à disposição.

Image by Joshua Woroniecki from Pixabay

Outra situação que causa dificuldade é quando temos muitas luzes concentradas em alguma parte da cena. Isso é bem comum em cenas urbanas noturnas, por exemplo, como nessa foto abaixo. Aí não tem jeito, o negócio é ir no manual mesmo, e dá pra deixar a exposição bem certinha. Então, o segredo é sempre escolher os parâmetros de modo a otimizar as duas coisas. Quase nunca o resultado será perfeito, é óbvio, e a gente precisa aprender a tomar uma série de decisões. Usar o modo manual, no fundo, significa tomar essas decisões de antemão, e elas partem da composição e não da quantidade de luz em si, como veremos mais adiante.

Image by Masashi Wakui from Pixabay

Os três controles de exposição

E como a gente controla quanta luz chega na câmera? Existem três meios que podem fazer isso, e eles estão na lente, no corpo da câmera e no sensor. Você já deve ter visto que a lente tem um diafragma lá dentro, que pode abrir ou fechar. Quanto mais aberto, mais luz passa, quanto mais fechado menos luz.

No corpo da câmera existe uma outra peça fundamental, que é a cortina ou obturador, e o nome muda um pouco dependendo do tipo da câmera ou de quem esteja falando, mas isso não importa muito. O importante é que a cortina é uma peça que serve para bloquear a luz que chega ao sensor. Quando você aciona o disparador, essa cortina abre por um tempo, deixando o sensor exposto. Já deu pra ver o que vai acontecer, né? Se deixar bastante tempo aberto, entra mais luz, se deixar menos tempo, entra menos luz.

Por fim, chegamos no sensor, e quanta luz ele precisa para produzir uma imagem é definida pelo ISO. O ISO nada mais é do que uma medida de velocidade de absorção de luz. O que isso quer dizer é que quanto maior o ISO, menos luz o sensor precisa para gerar a imagem com uma boa exposição.

Porém, se tudo fosse tão simples assim, seria fácil demais, né? Onde está a a pegadinha? É que cada um desses parâmetros oferece alguma característica diferente que afeta a composição. Então, a composição e a exposição estão diretamente ligadas uma à outra, e a exposição ideal, no fundo, será dada por uma negociação entre essas características.

Abertura

O que varia com a abertura é a profundidade de campo, ou seja, a que distância uma coisa pode estar da câmera e ainda aparecer nítida no quadro. Quanto maior a abertura, ou seja, mais a aberta a lente, menor é a profundidade de campo. Isso quer dizer que somente as coisas que estejam muito próximas do ponto focal ficarão nítidas. Quando a lente está bem aberta, isso pode ser uma distância de apenas alguns milímetros.

Quanto mais fechada a lente, mais tudo fica bem definido, e coisas que estão a distâncias enormes podem ficar bem nítidas. Então, via de regra, para aumentar a nitidez você tem que fechar a lente, o que diminui a exposição. Para borrar o fundo, tem que abrir a lente, o que aumenta a exposição e aí tem que compensar isso no modo manual.

Velocidade

Já a velocidade da cortina determina quanto movimento aparece na foto. Se o sensor fica exposto por muito tempo, é como se ele estivesse sobrepondo várias fotos ao mesmo tempo. O resultado disso é o chamado desfoque por movimento. Por outro lado, se ele fica exposto pouco tempo, esse efeito não acontece, e a imagem parece um movimento congelado. Apesar de a gente chamar esse parâmetro de velocidade, na câmera ele é uma medida de tempo, medido em segundos, e costuma ir de 1/4000 s até 30 s. Veja que 1/4000 s equivale a um tempo total de 250 microssegundos, que é super rápido!

Quando se varia a velocidade, na verdade se está escolhendo entre registrar o movimento ou congelar a cena. Quanto maior a velocidade, mais congelada fica a cena e menor a exposição. Quanto menor a velocidade, mais aparece desfoque por movimento e maior a exposição.

ISO

Já o ISO, numa câmera digital, é a quantidade de amplificação eletrônica do sinal gerado pelo sensor. O que isso quer dizer é que a câmera lê o sensor e multiplica todos os valores por uma constante. E qual o problema disso?, você deve estar pensando. É que o mundo não é perfeito, e toda medida tem algum tipo de ruído. Quando a gente amplifica o sinal que gera a imagem, também multiplicamos um monte de ruído junto. Quanto maior a amplificação, mais o ruído vai aparecer.

Então, o ISO a gente tem sempre que manter o mais baixo possível, justamente porque a única característica que ele tem é estragar a imagem se aumentar muito. Só que, quase sempre, a gente não chega numa exposição legal com a abertura e a velocidade que a gente quer, aí precisa dar uma aumentada no ISO pra compensar. O segredo é sempre usar o menor ISO possível, mesmo que isso implique ter que abrir mão de alguma coisa nos outros parâmetros.

Já o maior valor do ISO que é aceitável depende da câmera, e existe uma série de testes que você pode fazer para determinar qual é o da sua, que explico aqui nesse outro artigo.

Triângulo de exposição

Aqui a gente chega no ponto central do artigo, que é o chamado triângulo de exposição. Em cada lado do triângulo temos um parâmetro, que são a abertura, a velocidade e o ISO. Nos cantos ficam as propriedades de cada um, e a ideia é ir jogando com os parâmetros de modo a criar um equilíbrio entre eles. Veja como fica na imagem abaixo.

No fundo, usar o triângulo de exposição é bem simples. Por exemplo, vamos supor que, para mim, o ideal seja que a profundidade de campo seja a maior possível, ou seja, que tudo fique nítido. Por outro lado, também vamos supor que eu não tenha problema com desfoque por movimento. Então, eu preciso fechar bem a lente, e o lado esquerdo do triângulo vai parar lá em cima. Para compensar, preciso mexer em algum dos outros dois lados para compensar o fato de a abertura deixar a foto escura. Então, tenho que andar com algum parâmetro para o lado mais claro. Como não tenho problema com movimento, posso aumentar a velocidade, reestabelecendo o equilíbrio. Agora é só usar o menor ISO que der e pronto. Veja no diagrama abaixo como fica.

Outro exemplo, vamos dizer que eu vi uma flor na rua e quero fazer um fundo bem desfocado. Além disso, como tem vento, tenho que usar uma velocidade bem alta pra não ficar borrada. Então eu abro bem a lente, e levo o lado esquerdo do triângulo de exposição lá pra baixo. Pra compensar, tenho que jogar o lado direito pra cima, que significa aumentar a velocidade. Daí o ISO vale a mesma coisa.

Agora, vamos ver um caso que a gente parte do ISO, que é a fotografia noturna. Aqui, já sabemos que a exposição tem que ser longa, então vamos deixar a velocidade para o fim. Só que a gente também quer uma imagem bem limpa, sem ruído. Então a gente joga o ISO, que é a base do triângulo, toda pra esquerda. Agora, podemos selecionar uma abertura que dê uma boa profundidade de campo e, depois aumentar a velocidade.

O segredo aqui é ter em mente que sempre que aumentar um parâmetro, vai ter que diminuir outro, é aqui que mora a dificuldade dessa técnica.

É menos difícil do que parece

Tudo isso pode parecer complicado porque tem um monte de variáveis em jogo, e é justamente resolver essa equação toda que é o problema. Só que, como em matemática, o segredo para resolver problemas com múltiplas variáveis consiste em isolá-las uma das outras, e resolver em função dessa que foi isolada. Pra isso, a gente precisa responder só duas perguntas.

Quanta profundidade de campo eu preciso?

O que é mais importante pra mim nessa foto específica? Que tudo fique nítido, que o fundo fique borrado ou uma coisa intermediária? Pra ficar tudo nítido, você vai ter que fechar a lente e, consequentemente, aumentar a velocidade e/ou o ISO. Se optar por abrir a lente, vai ter que aumentar a velocidade e/ou diminuir o ISO.

Quero movimento ou não?

Com essa pergunta, basicamente, você responde quanta velocidade precisa. Se quer desfoque por movimento, vai ter que aumentar bem a velocidade, o que significa ter que aumentar a abertura ou o ISO pra compensar. Se quer registrar o movimento, tem que diminuir a velocidade e, por conseqüência, diminuir a abertura e o ISO.

Por onde começar

O jeito mais fácil é pegar uma cena que represente bem o que você quer fotografar e fazer uns testes. Responda às duas perguntas e defina se o mais importante para você é a abertura ou a velocidade, daí você ajusta esse parâmetro de acordo com a sua necessidade. Depois, coloque o ISO no mínimo e ajuste o parâmetro que sobrou até a imagem começar a ficar boa. Só mexa no ISO se a combinação entre velocidade e abertura não forem suficientes para conseguir a exposição ideal. Não tem muito o que fugir, é assim que se acerta a exposição no modo manual.

Depois que você achou um bom conjunto de parâmetros para aquela situação, é só ir fazendo ajustes finos conforme for tirando as fotos e pronto. Por exemplo, numa foto como essa abaixo, você começa encontrando o conjunto de parâmetros que deixa aquele prédio ali no fundo, que recebe o sol direto, estourando um pouco. Aí é só ir variando esses parâmetros um pouco conforme vai fotografando.

Image by Free-Photos from Pixabay

Por fim, uma dica bem importante é sempre regular a exposição pela área mais clara da imagem. Já expliquei num outro artigo, que você pode ler clicando aqui, que o ideal é sempre deixar as áreas claras o mais claro possível sem estourar. Assim, dá pra escurecer na edição, se for o caso, sem perder detalhes. Sem contar que, fazendo desse jeito, a quantidade de detalhes nas áreas escuras vai ser a maior possível.

Como esse artigo já ficou longo, e se eu escrever um tratado geral sobre exposição no modo manual ninguém vai ler, vou ficando por aqui. Não deixe de me seguir no Instagram, porque sempre posto umas coisas interessantes por lá! Te vejo por lá, e por aqui também!

Fábio Ardito

Pelo mundo atrás de treta.

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