Nenhum termo é mais usado pela mídia atualmente do que o consenso dos especialistas. Independente do assunto que seja tratado, ele sempre é justificado pela concordância absoluta de uma classe de especialistas que ninguém nunca viu.
Entretanto, para que um embuste tão óbvio quanto esse possa ocorrer, é necessário que, antes, o terreno esteja preparado. Para tal empreitada, é a rejeição da realidade objetiva que deve, antes de todo o resto, ser sacrificada.
Na cosmologia cristã, o universo foi criado por um Deus racional. Isso implica que ele deve possuir um conjunto de regras racionalmente dedutíveis, e que deve estar ordenado de uma maneira que seja compatível com a perfeição divina.
Por isso, ao menos uma parte dessas leis deve ser acessível à razão humana, que pode integrar esses conhecimentos num quadro metafísico maior e obter descrições cada vez mais refinadas da realidade. Porém, nesse contexto é a própria realidade que é o juiz do que pode ser considerado falso ou verdadeiro, pois é na própria ordem divina manifestada na criação que está a balança da veracidade.
Assim, o cientista ou o filósofo só pode validar as suas hipóteses através do confronto com o conjunto de conhecimentos adquiridos e validados anteriormente. Seguindo por esse processo, do qual o método científico é somente uma das partes menores dos instrumentos de investigação da realidade, é que os intelectuais vão construindo uma explicação mais ampla a respeito dos fatos da realidade; os novos fatos validados se incorporam aos antigos e passam a servir como baliza para os novos.
No meio desse processo todo, podem surgir, ainda, novos fatos que são contraditórios com antigos estabelecidos como verdade, o que demanda uma nova explicação que resolva a contradição. Foi assim que saímos da mecânica clássica de Newton para a relatividade de Einstein, por exemplo. A mecânica clássica não se demonstrou falsa, mas apenas um caso particular da relatividade.
Porém, esses saltos em conhecimento se dão sempre no confronto dos dados da realidade, justamente porque é através dela que se manifesta a racionalidade divina.
O que acontece, então, se a racionalidade divina deixa de existir para os intelectuais?
Nesse caso, não há mais motivo para crer que haja um ordenamento que rege o universo. Assim, averiguar a realidade não é mais uma questão empírica, mas de opinião. É nesse ponto que entram os filósofos modernos como Kant e Descartes, que negam a objetividade do conhecimento.
Kant ainda vai além, e institui que o conhecimento racional é o único conhecimento válido. Porém, se não existe a racionalidade divina, de onde vem a racionalidade do conhecimento? Só pode vir da razão humana.
Porém, ainda segundo Kant, como não há meios de se conhecer a realidade objetivamente, o único confronto possível é entre as percepções dos intelectuais. Então, é no confronto de opiniões de especialistas que se encontra o discernimento sobre a realidade.
Nesse ponto é que nasce o consenso científico. Se a natureza não é acessível diretamente pelo intelecto, então vale o que a maioria dos intelectos pensa a respeito dela, mais ou menos num processo de média. Nesse ponto há uma evidente contradição, pois isso implicaria que pelo menos uma parte da realidade é acessível aos intelectos. Eis aí um furo que não pode ser resolvido, apenas ignorado ou, pior ainda, camuflado por imensas tralhas metafísicas – e é precisamente por aí que segue a filosofia moderna.
É evidente que, nesse ponto, as leis do universo foram atiradas pela janela e entra-se num estado de total alucinação coletiva. Como o ser humano é um animal social, é comum que ele se submeta às regras de algum determinado grupo, e o mesmo vale para os intelectuais.
Assim, o suposto consenso racional se transforma no consenso do medo social, do qual todos passam a concordar com a opinião majoritária do grupo a que pretendem pertencer. Afinal, se não há leis objetivas e o que vale é o consenso, se eu penso diferente do consenso é porque eu estou errado.
Esse fenômeno é razoavelmente contido enquanto ele se encontra apenas delimitado ao ambiente universitário. O problema é que a universidade foi concebida justamente para irradiar as ideias dos intelectuais para o restante da sociedade. Aos poucos, esse modo de pensamento vai impregnando todo o tecido social, até o ponto em que o mais humilde dos pedestres passa a acreditar no tal consenso científico.
Basta cinco minutos de investigação para descobrir que não existe a adesão total da classe científica a absolutamente nenhum assunto. Porém, isso não é suficiente para desfazer o engano, já que, a essa altura, ele tornou-se totalmente integrado à psique da população em geral.
Daí por diante, toda a discussão pública se resume a quem consegue dar a carteirada do consenso, e a mídia é especialista nisso. Como ela é a porta-voz do consenso científico, não é o cidadão comum que vai se atrever a questioná-la, até porque, como eu já disse ali em cima, se eu penso diferente do consenso, é porque eu estou errado. O que jamais se dirá nesses meios é que as descobertas sempre são feitas por quem não está de acordo com a opinião da maioria e que, portanto, o tal consenso é a coisa mais anti-científica que pode existir.
Assim, o consenso torna-se a ferramenta fundamental do totalitarismo, do controle total das mentes. É através desse fantasma que serão impostas as maiores abominações que a humanidade já viu.
A boa e má notícia é que o universo continua regido pelas leis divinas. Bem como é impossível que tal sistema de pensamento perdure muito tempo, também é impossível que ele não traga toda a desolação que possa conceber antes de partir, e essa é a má notícia.