Nesse artigo eu não vou comentar nada a respeito de coisas relacionadas aos recursos da câmera, lentes ou qualquer coisa relacionada à parte técnica da fotografia. O assunto desse artigo são os erros de composição de fotografia mais comuns, que vejo o tempo em fotos nas redes sociais. Esse é um assunto meio sutil e, por isso mesmo, muita gente não consegue perceber esse tipo de erro.
Sempre que olho minhas fotos antigas vejo que eu mesmo cometi esses erros o tempo todo. Só que a vida é um eterno aprendizado, então o melhor é aprender com os erros e seguir em frente. Então vamos lá, quais será que são os 7 erros de composição fotográfica mais comuns? Segue firme aí que o artigo de hoje vai ter foto a dar com pau!
Fotos desbalanceadas
Essa é a parte da composição que acontece logo depois que a gente escolhe quais objetos irão entrar no quadro da foto. O modo como a gente distribui todos esses objetos tem um impacto muito grande no resultado final. Porém, a ideia aqui é bem simples, é só uma questão de distribuir tudo de modo que a imagem pareça balanceada. É como distribuir o peso das coisas para a foto não pender para nenhum lado. Aqui, o conceito de peso refere-se à atenção que um determinado objeto puxa na foto. Quanto mais ele atrai o olho, mais pesado ele é.
Por exemplo, um objeto muito escuro e que ocupe uma boa parte do quadro vai puxar mais atenção para o lado dele. O céu muito azul que ocupa um grande espaço da foto vai puxar o peso pra cima. Um objeto no plano de frente que seja muito claro vai puxar o peso pra ele e assim por diante. Assim, o que a gente sempre tem que fazer é definir qual é a personagem principal da foto e distribuir as coisas em torno de modo que ele puxe a atenção e as outras coisas em volta não façam essa atenção escapar por um dos cantos.
A personagem principal e o centro de atenção
Isso não quer dizer que essa personagem principal tenha que estar sempre no centro, apenas que quando a gente somar o peso dela e dos coadjuvantes, a atenção fique presa na personagem principal, mas não excessivamente. Aliás, colocar a personagem principal sempre no centro é mais um dos erros comuns na fotografia. Imagine que a personagem principal seja um buraco negro que suga a atenção de quem esteja vendo a foto. A função dos outros objetos, além de dar contexto, é evitar que toda a atenção seja sugada por ela, criando um elemento que ao mesmo tempo que cria tensão, também dá leveza e torna a composição muito mais agradável. A questão toda é resolver esse paradoxo de tensão e leveza.
Vamos ver alguns exemplos. Na foto abaixo, é óbvio que as personagens principais são os dois flamingos ali perto do centro. Como essa é uma foto minimalista, já que o cenário é bem simples, a cor bem atenuada dos flamingos contribui bastante para o equilíbrio da cena. Não tem nenhum objeto que desvia a atenção, e é bem difícil tirar os olhos das personagens principais. Outro detalhe importante é que o céu não ocupa a maior parte do quadro, que é um erro bem comum também. Por fim, note que os flamingos não estão no centro do quadro, justamente para compensar o peso do céu.
Algumas distribuições de peso bem interessantes
Já a foto abaixo tem um truque bem interessante, que é utilizar o desfoque para diluir a atenção. Todo o peso da foto é distribuído mais ou menos uniformemente pela cor intensa das pétalas, e os detalhes mais afiados do botão puxam o olho, com o desenho das pétalas fazendo os olhos fluírem naturalmente para o centro do botão. Inclusive, dá até impressão que a foto está afundada no meio do botão, criando uma sensação tridimensional. Neste caso, o peso está distribuído uniformemente, mas vai aumentando em direção ao centro, criando tensão que torna praticamente impossível tirar os olhos da foto. Genial.
E, abaixo, um exemplo de uma foto que o peso todo pende para o canto inferior direito. Só que aqui tem um truque interessante, que é a faixa de pedestres na diagonal com os carros coloridos borrados bem em cima da faixa. Então, nesse caso, o peso da foto é distribuído em relação à diagonal, e aquele caminhão laranja puxa o peso pra cima. Genial também, não acha?
Plano de frente aleatório
Uma coisa que se transforma em um dos erros de fotografia mais comuns é a ânsia por tentar fazer coisas diferentes. E um dos departamentos que mais geram problemas é o da frente das fotos, porque as pessoas tendem a inserir elementos estranhos no quadro. Essa foto abaixo é um exemplo bem típico. Pra que colocar um tênis na foto? Pra quê, meo deoosss do cééélllll!!!! Eu sei que pode parecer uma boa ideia pro Instagram ou pra uma foto comercial, mas realmente, ficou um elemento estranho ali no meio. Em fotografia artística, nunca faça isso. Nada ali combina, a começar pelas cores.
Já nessa outra, o cara acertou na mosca. Veja como o cachorro harmoniza bem com a foto. Ele tem várias funções ao mesmo tempo, como plano de frente, personagem principal, peso principal. As suas cores harmonizam com o quadro sem ficar camuflado no meio dele. Até a posição do cachorro, olhando para o horizonte, ajuda a criar aquele meio termo entre tensão e leveza. A luz também está perfeita, com as sombras tendendo todas para um lado. Nota 10 para essa foto.
Plano de frente sem conexão com o fundo
Dentre os erros comuns de fotografia, especialmente entre os iniciantes, um é pegar um detalhe qualquer do terreno, colocar ele no plano de frente e desfocar o fundo com alguma coisa interessante atrás. A foto abaixo é um exemplo bem típico, com aquela casinha que parece ter um estilo medieval no fundo. Além disso, a distribuição de peso da foto está toda errada e não tem nada nela que prenda a atenção por muito tempo. Eu só não sinto vergonha alheia porque tenho várias fotos dessas, então não posso falar muito.
Já nessa de baixo os banquinhos estão alinhados com a direção da rua e a divisa entre eles e o resto do cenário é apagado de maneira bem gradual pelas folhas e pela iluminação, de modo que eles se fundem ao cenário. Além disso, o cenário em si é bem simples, a foto não tem objetos demais e todos eles se harmonizam bem com o tema. É assim que se faz um plano de frente bem feito.
Falta de uma personagem principal
Muitas vezes, a foto tem tudo bem feito, peso bem distribuído, luz adequada, elementos interessantes, mas não tem nenhum personagem principal que puxe a atenção, e mais um daqueles erros que são muito, mas muito comuns mesmo na fotografia. Esse é o caso da foto abaixo. Que diferença faria ter alguma coisa ali no centro! Faltou pouco, bem pouco! Bastava, uma flor, uma pessoa, qualquer coisa.
Outras vezes, a personagem está lá, mas faltou buscar a ênfase, como é a foto abaixo. Aquele barquinho ali é a personagem principal, não o crepúsculo. O segredo ali seria recortar a imagem dividindo o peso diagonalmente entre o barquinho e o sol escondido entre as nuvens. A iluminação está perfeita, com essa luta entre o azul e o laranja, praticamente um clichê da fotografia, mas que funciona quase toda vez.
Recortes ajudam a definir a personagem principal
Para ilustrar o que quero dizer, veja essa foto abaixo com um tema bem semelhante, no qual o fotógrafo explorou bem a ênfase na personagem principal. Percebe como a foto permite uma maior concentração? Portanto, quando a paisagem é muito ampla, ela tende a jogar o observador para fora. A função da personagem principal é justamente evitar que isso aconteça. Também note que essa imagem é muito mais simples e lisa do que a de cima, o que também ajuda bastante.
Por isso que eu indico duas lentes zoom, uma 30-70 mm e outra de 70-200 mm. Com essas duas pra enquadrar praticamente qualquer coisa a qualquer distância, e elas servem justamente para evitar esse tipo de problema. Por que não indiquei uma 28-300 mm logo de uma vez? Porque a qualidade da imagem dessas lentes costuma ser muito pior que das outras duas, além de serem caras demais.
Luz errada
Ah sim, aqui é o departamento que a porca dá nó cego no rabo, e é aqui onde a maioria dos erros comuns de fotografia acontecem com maior freqüência. Acertar a luz é a coisa mais difícil de toda a fotografia, até porque não dá pra fazer fórmulas mais exatas como é o caso do peso, da frente e da personagem principal. Aqui é uma questão de observação e de descobrir o que fica bem com o quê. E, realmente, não tem fórmula pronta. O que geralmente se faz é pegar uns clichês, como o tal do golden hour, e usar como regra geral,
Só que isso nem sempre é verdade, apesar de a chance de acertar com o golden hour seja maior. Por exemplo, a imagem abaixa provavelmente oi tirada de manhã, com a luz do sol já bem branca. Só que o fotógrafo pegou bem um horário que a luz incidia lateralmente sobre o vale, criando esse jogo de sombras bem interessante. Note que o sol parece estar bem no canto superior esquerdo, coisa que ele provavelmente puxou mais no Lightroom. Também gostei da vaca ali no canto inferior direito!
Iluminação sem graça
Agora veja essa outra foto abaixo. A luz simplesmente não tem graça, a foto não tem tensão nem emoção. Os detalhes somem, fica parecendo uma foto normal, como uma luz bem achatada. Esse é o erro campeão nas fotos de paisagem do Instagram, especialmente aqui no Brasil. No caso aí abaixo, daria rpa explorar muito melhor aquele castelo com uma lente zoom e num horário que tivesse mais nuvens ou no nascer ou pôr-do-sol, dependendo da posição dele.
Já a foto aí embaixo é minha, tirei ela em Riva del Garda, na Itália, mais ou menos umas 10 da manhã. Essa era a pior situação de luz possível para tirar um foto ali, mas era o horário que eu tinha. Aliás, esse era um problema quando morei na Itália. Como não tinha carro, dependia de transporte público e, dependendo do lugar tinha que ir embora antes do sol se pôr. Daí não dava pra ficar esperando a condição de luz ideal. O cenário era perfeito, mas consegui estragar a foto. Paciência, a gente tem que adubar a vida.
Quando o assunto é luz, é bem difícil pegar quais são as melhores práticas pra acertar sempre. Eu acho que isso merece um artigo dedicado, então não deixa de seguir o blog porque devo escrever um logo.
Excesso de complexidade
Em toda essa história de criar e gerenciar a tensão do quadro, entra uma outra coisa que é a complexidade dos objetos da cena, e é mais um dos erros de fotografia extremamente comuns. Existe um limite no qual a mente humana fica sobrecarregada com os detalhes e acaba correndo os olhos para fora da foto, buscando um alívio cognitivo. Isso acontece muito facilmente quando a foto tem detalhes demais.
Veja o exemplo dessa foto abaixo. Nela, as flores são pequenas demais e muito numerosas. A ideia de fotografar o buraco com o céu ali é excelente, mas isso precisava ter sido melhor explorado recortando mais justamente o buraco. Além disso, eu ousaria dizer que a luz também não está legal, muito dura e plana, quer dizer, produzindo muitas sombras e sem muita variação de cores. Honestamente, não sei se teria como salvar essa foto só com um recorte.
Agora veja essa cena abaixo. Repare que o número total de objetos é grande, com a ponte, árvores, pedras, etc. Só que tudo isso forma um conjunto bem harmônico, e o fotógrafo acertou bem em fazer o recorte certinho sobre a ponte, que é a personagem principal. A luz também está perfeita e dá essa sensação de bosque encantado.
Como muito fotógrafo importante costuma dizer, o que se deixa de fora da foto é tão ou mais importante do que aquilo que se deixa dentro.
Bordas desarrumadas
O chinês dessa foto merece mesmo um prêmio pela sua proficiência em estragar fotos. Acho que daria pra enquadrar ela em todos os erros mais comuns de fotografia. Aqui temos muito mais coisas a sentar o pau, quero dizer, comentar, e uma delas é com relação às bordas da foto. É preciso tomar cuidado com que vai nelas, porque você pode criar um centro vazio, o que faz o seu espectador cair para fora do quadro.
Isso sem contar aquele tênis ali embaixo. Veja que as bordas simplesmente destroem a foto, que não tem nada no centro. Talvez o cara tenha feito isso com a intenção de colocar um texto ali no centro, que traria de volta o peso para o lugar correto. Por esse lado, esse chinês até que é bom, mas não no assunto que estamos tratando.
Por outro lado, vejamos o exemplo abaixo. A borda mais escura ajuda a concentrar a atenção nas flores. A tensão da foto fica na disputa entre a borboleta e as flores, que possuem cores parecidas, com a borboleta levemente mais complexa, mas com as flores ocupando um volume maior. Aqui, a vista fica numa tensão contínua entre esses dois elementos, com a borda ajudando a manter a concentração dentro do quadro, e isso prende o espectador na foto.
E esses são os 7 erros de fotografia mais comuns que eu vejo em toda parte, principalmente nas minhas próprias fotos! Aliás, você pode ir meter o pau, quer dizer, comentar os erros que achar nas minhas fotos no Instagram! Suas críticas serão muito bem-vindas e me ajudarão a evoluir! Te espero por lá!