7 tipos clássicos de câmeras analógicas de 35mm

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Quem começa a se interessar por fotografia com filme logo quer comprar uma câmera analógica. Porém, ao contrário das digitais novas, que você encontra reviews, vídeos e discussões, as informações a respeito das analógicas são um pouco mais difíceis de achar, especialmente em português. Dá até pra achar bastante coisa no Youtube, mas tirando o Câmera Velha, os conteúdos costumam estar muito espalhados e, até hoje, eu não vi ninguém agrupando todos os tipos de câmeras analógicas num conteúdo só.

Pra complicar ainda mais a situação, as câmeras analógicas possuem mais variedade de tipos e de funcionalidades que as digitais. Hoje, dá praticamente pra comprar qualquer câmera digital simplesmente sorteando, porque todas têm quase os mesmos recursos. As diferenças entre os modelos são mais detalhes mesmo. No caso das câmeras analógicas, existem desde câmeras que possuem poucos ajustes (ou nenhum), como as saboneteiras, até câmeras profissionais com muitas opções e um auto nível de automação, como as Pentax Z1 e as Canon EOS-1V.

Isso tudo é muito legal e tem muito assunto para discutir, mas pode confundir um pouco quem está começando, principalmente porque a fotografia analógica é muito mais intimidadora que a digital. Afinal, filme custa dinheiro, e errar uma foto analógica tem um custo, coisa que não existe o mundo digital. Por isso, resolvi escrever esse artigo compilando algumas coisas interessantes sobre os diversos tipos de câmeras analógicas que aprendi montando a minha coleção.

Variedade de tipos

As analógicas são do tempo em que a tecnologia de fotografia ainda estava se desenvolvendo, e os tipos de câmeras analógicas refletem bem essa história. Temos câmeras que são bem rústicas, datando lá do começo do século XX, até máquinas bem tecnológicas, que saíram até o começo dos anos 2000. Nesse período de desenvolvimento, muitas nova tecnologias foram surgindo, e elas saíram de um ponto em que eram completamente mecânicas até tornarem-se verdadeiras engenhocas mecatrônicas. Na verdade, as câmeras modernas, tirando a parte do sensor, são idênticas à última geração de filme!

Isso, é claro, é excelente pra quem coleciona, afinal nunca falta algo novo que se encaixe na coleção! Porém, pode ser um pouco problemático para quem tá começando agora, porque são muitas variáveis e não dá pra entender tudo sem ter um conhecimento bem sólido da tecnologia da fotografia em si. Porém, existem algumas categorias principais de câmeras analógicas e a gente consegue encaixar todas dentro de uma ou outra categoria, o que ajuda muito quem tá chegando agora. Já ensinava Aristóteles, 2500 anos atrás, que o jeito mais fácil de entender as coisas é dividi-las em categorias. Então é isso o que vamos fazer, dividir as câmeras analógicas em 5 categorias principais.

Compactas mecânicas

Esse é o primeiro tipo de câmera portátil que surgiu, e elas possuíam tanto ajuste de foco quanto de exposição. Só que, no período em que a eletrônica, mesmo analógica, ainda era muito primitiva, a fotometria tinha que ser feita ou a olho, ou através de um equipamento externo, o fotômetro. Esse tipo de câmera não é muito comum no Brasil, porque aqui essas coisas não eram acessíveis por aqui antes dos anos 50. Inclusive, a coisa aqui era tão rústica que tinha fotógrafo profissional que trabalhava com câmeras que hoje a gente chamaria de saboneteira.

Saboneteiras

Esse é um dos tipos de câmeras analógicas mais conhecidos, apelidado popularmente por saboneteira – e opção número 1 entre os masoquistas, essas são as câmeras que as pessoas comuns costumavam comprar. Elas são as responsáveis pela maior parte dos desastres fotográficos até os anos 90 e, geralmente, a qualidade das fotos eram bem ruins mesmo, conforme eu já expliquei nesse artigo aqui. Porém, como elas eram populares, é o tipo que mais tem em circulação hoje. Não precisa explicar muito de onde vem o apelido saboneteira, é só ver a foto abaixo.

Fotos estilo vintage

A maioria esmagadora das saboneteiras não tem nenhum tipo de ajuste, nem de foco, nem de exposição. Elas são feitas pensando num tipo de parâmetro mediano que atenda satisfatoriamente uma gama meio ampla de situações. Por isso mesmo, elas não são boas em nenhuma. Só que isso é uma espécie de charme que muita gente gosta, e é por isso que elas são extremamente populares hoje em dia. Muita gente entra em contato aqui perguntando qual é câmera que faz aquelas fotos estilo de festinha dos anos 80, e o tipo é esse! A foto abaixo é um exemplo típico da qualidade de imagem de uma saboneteira.

Alguns exemplos desse tipo de câmera analógica compacta são a Yashica EZ Mate, a MF-3 Super, a Olympus Shoot ‘n Go, e a Canon BF-9. Tem algumas que são tão espartanas que chegam a ser chamadas de câmera de brinquedo, como uma Vivitar EZ-35 que ganhei de um tio que, por sua vez, ganhou de brinde! Morro de curiosidade de ver o que sai dela. Qualquer hora gasto um filme na Vivitar!

Todas essas saboneteiras mais simples, que no exterior são chamadas de point and shoot ( que pode ser traduzido ao pé da letra como apontar e disparar), mas eu costumo chamar de shoot and pray (dispare e reze), porque realmente não dá pra saber o que vai sair dali!

Compacta moderna

Porém, dentro dessa categoria existe uma outra, mais moderna, que é a das últimas câmeras analógicas fabricadas para amadores. Elas parecem muito com as primeiras câmeras digitais compactas, tanto na aparência quanto no funcionamento. Costumam ser enormemente desprezadas por quem não conhece a fotografia analógica e é bem possível que algum parente tenha uma enfiada em alguma gaveta. Por isso, é um dos tipos de câmeras analógicas mais fáceis de achar em bom estado, e de graça.

Já adianto para não ter preconceito com essas câmeras, apesar de parecerem bem baratas. Elas são totalmente automatizadas e são tão fáceis de usar quanto um celular. Essas câmeras possuem exposição e foco automático, por isso geram imagens de alta qualidade. Um bom exemplo é a Canon Prima 80u e a Canon AF-8. Essas câmeras possuem um desempenho excelente e, em termos de qualidade de imagem, não perdem em nada para uma digital compacta da época. Pra quem quer qualidade e uma câmera fácil de usar, o melhor é ir nesse tipo. Dá uma olhada nessa foto abaixo, tirei com uma Canon 80u.

Compactas automáticas

Essa é a categoria da famosíssima Olympus Trip 35. São as câmeras antigas que menos exigem do fotógrafo por possuírem a exposição completamente automatizada, apesar de o foco, geralmente, requerer algum ajuste. Se o que você procura é uma câmera analógica pequena, muito fácil de usar, sem complicações e barata, procure uma desse tipo. Elas são bem fáceis de reconhecer porque possuem aquela janelinha característica na frente.

Em termos de tecnologia, elas são de uma época interessante, entre os anos 60 e 70, em que as fabricantes estavam lutando para produzir câmeras que pudessem ser usadas por amadores. Até então, se o sujeito não fosse praticamente um engenheiro fotográfico, dificilmente conseguiria tirar uma foto na vida. Isso sem contar o preço e o tamanho das câmeras anteriores a esse período, e os tipos de câmeras analógicas dessa época não eram muito variados.

Eletrônica analógica

O pulo do gato dessas câmeras é que, no pós-guerra, a produção de componentes eletrônicos, especialmente depois da descoberta dos semi-condutores, começou a disparar. Então, os fabricantes de câmeras começaram a pegar essas tecnologias e fabricar sistemas de automação analógicos para as câmeras. Veja bem, eu não estou falando do analógico no sentido do filme, e sim da eletrônica envolvida no processo.

Quase todas essas câmeras funcionam baseado em alguma foto-célula, que transforma a luz que chega até a câmera num sinal elétrico proporcional à sua intensidade. Esse sinal passar por uma série de componentes analógicos e eletro-mecânicos, controlando o sistema de exposição da câmera.

As Olympus Trip 35, que também já escrevi sobre aqui no blog, são as mais famosas e as mais caras dessa categoria, apesar de o sistema de foco ser um verdadeiro pesadelo. Existem outras opções mais interessantes e baratas por aí. Uma bem legal que tenho na minha coleção é uma Ricoh 35 Electronic que, além do controle automático de exposição, ainda tem um sistema de visualização de foco embutido ali na janelinha. A Ricoh não erra no foco, e todas as fotos sempre ficam com uma qualidade que não deve nada pras profissionais. E ainda paguei 50 conto nela.

Entretanto, existem muitas e muitas opções dessas câmeras, que costumam ter boa qualidade mas são desprezadas porque não são SLR. Como elas têm aparência de câmera velha, também são desprezadas no mercado em geral. É bem fácil achar dessas câmeras analógicas por menos de 50 reais e eu recomendo que você pague a aposta alguma vez! Elas são câmeras bem gostosas de usar e, muitas vezes, a qualidade vai te surpreender muito! A pegadinha é que, como são dispositivos eletrônicos analógicos, são muito suscetíveis a sujeira e oxidação, o que faz com que muitas delas parem de funcionar. Mas é questão de testar e, muitas vezes, uma limpeza interna por um profissional resolve o caso.

SLR manual

Esse, entre todos os tipos de câmeras analógicas de 35mm, é o que mais representou uma evolução natural em relação tanto ao design das compactas quanto das dual lens, que eram câmeras mais profissionais e que usavam um formato de filme diferente, geralmente o 120. A vantagem do filme 120 é que o tamanho do quadro é muito maior. Enquanto no 35mm o fotograma tem 24 x 36 mm, no 120 ele é 60 x 60 mm. Isso quer dizer que a resolução do filme 120 é 4 vezes maior que a de um 35 mm equivalente. Tem filme 120 que dá o equivalente 150 megapixels facinho.

Só que essas câmeras, apesar da qualidade, tinham uma grande desvantagem. Elas usavam uma lente para fazer a imagem no filme e outra para o vewfinder, que é a janelinha onde o fotógrafo visualiza a cena. Isso permitia que o fotógrafo ajustasse todos os parâmetros, a composição e o foco em tempo real e sem medo de errar. Só que, por outro lado, a câmera um trambolho e toda a óptica era duplicada, o que elevava ainda mais o preço.

Em resposta à isso, foi inventado um novo tipo de câmera, a SLR ou Single Lens Reflex. A ideia aqui é que a mesma lente usada para fotografar também produz a imagem no viewfinder, daí o single lens, ou lente única. Com isso, é preciso só uma lente, que é uma das partes mais caras da câmera. Porém, para fazer isso funcionar, existe um espelho que redireciona a luz para o viewfinder, daí o reflex, ou reflexivo, que é o espelho. Quando a câmera é disparada, o espelho levanta, deixando a luz passar pelo obturador e chegar no filme. Esse design é, até hoje, o mais predominante de todos. Depois de quase 60 anos de mercado é que finalmente ele está sendo aposentado em favor das câmeras mirrorless, sem espelho.

Além disso, a SLR é o tipo de câmera analógica que permite trocar a lente. Essa é mais uma herança de design que esse tipo tem ate hoje!

Câmeras mecânicas

Entretanto, as primeiras gerações dessas câmeras ainda eram bem mecânicas, mas já incorporavam um sistema de fotometria eletrônico (analógico, é claro) dentro do viewfinder. Esse tipo de câmera analógica tem focalização e fotometria manuais, o que é bem legal por que te envolve muito mais no processo de criação, apesar de exigir mais conhecimento. Além do mais, elas têm uma sensação muito mais nostálgica e clássica, que eu, particularmente, gosto bastante. Alguns exemplos que já escrevi sobre aqui no blog são a Pentax K1000, a Zenit 122 e a Sears KS500. Porém, espere gastar um pouco mais porque elas são colecionáveis e é um pouco difícil encontrar câmeras em bom estado.

Nesses modelos, só a fotometria mesmo que tinha controle eletrônico. Todo o resto, incluindo a temporização das cortinas do obturador, é mecânico. Na Pentax K1000, por exemplo, dá até pra ouvir a corda do temporizador funcionando quando a exposição é muito longa, tipo 1 segundo. Esse tipo de câmera dispara sem pilha normalmente, só que aí tem que fazer a fotometria no olho, usando a regra sunny 16.

SLR semi-automática

No final dos anos 1970 e começo dos 1980, os fabricantes começaram a incorporar componentes eletrônicos mais elaborados nos seus modelos. Eu estou considerando essas câmeras como tipos diferentes de analógicas, mas elas poderiam muito bem estar todas separadas apenas por subcategorias. Só que a lógica de uso é tão diferente das manuais que, pra mim, parece fazer mais sentido colocá-las em categorias diferentes.

As câmeras dessa época costumavam ter uma precisão muito grande na temporização das cortinas, já que, agora, os temporizadores mecânicos haviam sido substituídos pelos eletrônicos de quartzo, muito mais precisos. Lembra do relógio de corda do seu avô? Esse era o mesmo tipo de mecanismo que era usado para controlar o tempo de abertura das câmeras! Substituí-lo pelo de quartzo foi realmente uma grande evolução.

A exposição também começou a ser calculada através de um circuito que era um computador analógico – curiosidade: o computador digital que conhecemos hoje é só um tipo de computador e, por mais incrível e conflitante que pareça, os computadores originais eram analógicos. Até os anos 70, havia uma briga feia entre o uso de lógica binária ou contínua. No fim, quem venceu foi a binária, mas muitas câmeras dessa época acabaram herdando a tecnologia dos computadores analógicos.

São bem mais fáceis de usar que as mecânicas

Muitas das câmeras dessa época possuem modo de exposição automática, que agiliza bastante o processo de fotografia e reduz muito a carga de trabalho sobre o fotógrafo. Porém, nesta época ainda não existia foco automático. As câmeras analógicas desse tipo estavam em um estágio intermediário entre as clássicas e as modernas. Alguns exemplos são a Pentax ME, a Yashica FX-D e a Praktica B200, sendo esta última fabricada pela Zeiss. São um tipo de câmera que eu gosto muito, mas são menos raiz que as mecânicas e precisam de pilha pra funcionar.

Em termos de procura e preços, são parecidas com as clássicas. Particularmente, esse é o meu tipo favorito de câmera porque elas têm bastante precisão, são muito bonitas, mais compactas que as mecânicas e ainda mantém a pegada antiga.

SLR moderna

Essa é a categoria que chegou no topo da tecnologia das câmeras analógicas e, basicamente, são a base mecânica das câmeras modernas. Essas câmeras incorporam, inclusive, o sistema de foco que se usa até hoje. Só para você ter uma ideia de como esse sistema é bom, é ele que ainda impede as câmeras mirrorless modernas de tomarem todo o mercado. A razão é que esse sistema é tão eficiente e rápido que mesmo as tecnologias de inteligência artificial não conseguem superá-lo.

E você pode ter tudo isso numa câmera analógica, queimando filme! Em termos de tecnologia de exposição e focalização, tudo o que você faz com uma DSLR moderna (DSRL é digital SLR, daí você vê que é só a continuação da tecnologia), também faz numa SLR analógica. Se você é o tipo de fotógrafo com um estilo bem eclético, que gosta tanto de improvisar quanto de planejar, é melhor ir atrás de uma câmera analógica mais moderna, como essas, com foco automático. Seu fluxograma de trabalho vai ser exatamente o mesmo da digital.

Além disso, de todos os tipos de câmeras analógicas, essas não são lá as mais charmosas, todo mundo tem a impressão que não se comparam com as DSLR, e elas acabam sendo desprezadas. Existem muitos modelos disponíveis por aí, como a Canon EOS, que a galera vende barato no OLX e no Facebook. Essas câmeras são tão parecidas com as DSLR modernas que, geralmente, você só as distingue de uma digital porque falta o LCD na tampa traseira. A vantagem de uma câmera dessas é que é certeza absoluta que ela vai te atender, independentemente do seu nível de conhecimento.

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Fábio Ardito

Pelo mundo atrás de treta.

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