Como evitar os 7 pecados capitais da edição de fotos

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Outro dia, escrevi um artigo sobre os 7 erros mais comuns da fotografia, que foi um grande sucesso, lido por milhares de pessoas em poucos dias. Nele, eu detalhava as coisas que encontro o tempo todo na internet, especialmente no Instagram. Porém, ali eu tratava da fotografia como um todo, desde o posicionamento da câmera até a edição. Entretanto, existem alguns erros que são cometidos, geralmente, na edição das fotos. Alguns deles eu listo nesse outro artigo, que lancei ontem, e é uma peça irônica a respeito de alguns dos mais triviais. Hoje, serei um pouco mais específico.

Como saber se estou errando ou se é o meu estilo?

Muitas vezes, alguns erros de edição acabam sendo confundidos com estilo ou, até mesmo, usados como desculpa por preguiça de estudar. Sinto muito se eu preciso puxar sua orelha, cara. Mas o fato é que quem quer evoluir em qualquer área, não só na fotografia, precisa estudar, e isso dá trabalho mesmo. A vantagem disso é que sempre tem margem pra melhorar se você estiver disposto a encarar qualquer crítica como construtiva. E isso é o que torna a fotografia interessante pra mim, porque é uma arte que eu aprendo um pouco mais todos os dias, dia após dia.

A arte começa com a sinceridade

E como faço pra saber se o que estou fazendo está errado ou é estilo mesmo? É bem simples. Basta se perguntar se o que você está fazendo tem um objetivo bem definido. A resposta precisa ser muito sincera – afinal, a arte é uma expressão da verdade, e essa verdade começa com a confissão das intenções do artista. Por exemplo, vamos supor que você goste de exagerar nas texturas. Quando se faz isso, a foto fica muito áspera. Se a sua resposta for que sim, que você quer transmitir aspereza na sua foto porque ela é parte importante da mensagem, então você tem que ir em frente mesmo e sentar o pau.

Por outro lado, se a sua resposta foi simplesmente que fez porque achou que estava ficando bonito ou que todo mundo faz, é bom revisar os seus conceitos. O problema é que, muitas vezes, os nossos parâmetros de qualidade estão moldados por influências do nosso meio social e, infelizmente, no Brasil isso quer dizer que cometer exageros o tempo todo é muito normal.

O problema cultural dos exageros

Uma das coisas que eu reparei enquanto estive na Itália, foi que as pessoas raramente usavam adjetivos hiperbólicos como ‘demais‘ (que seria ‘troppo’, em italiano). Quando alguém usava troppo numa frase, eu sabia que o negócio era feio mesmo. Aqui não. O cara se corta fazendo a barba e diz pra todo mundo que quase morreu de hemorragia.

Então, acho que o nosso papel, como artistas, é ajudar o nosso povo a se manter sempre equilibrado, e uma das coisas mais importantes é mostrar que as coisas podem ser mostradas sem exageros. Inclusive, um problema de se tratar tudo com exageros é que a gente perde a escala de proporção das coisas. Se, quando eu me corto fazendo a barba, acho que sofri um acidente gravíssimo, como eu classifico um acidente de moto, caso me ocorra?

Entende? Edição de fotos pode parecer uma coisa boba, mas esses erros, especialmente os exageros, fazem parte de um quadro cultural mais amplo. E, querendo ou não, nós que publicamos no Instagram, redes sociais, vendemos nossas fotos comercialmente, somos quem produz a arte popular, que é justamente a arte produzida pelo povo para o povo. Por isso, a gente tem o dever, até cívico, de aprimorar a nossa arte o máximo possível.

Agora chega de reclamação cultural e vamos ao que interessa. Basicamente , todos os erros comuns de edição de fotos que listei abaixo são baseados em exagero. Então, em todos os exemplos eu vou usar a foto abaixo como referência. Ela está do jeito que saiu da câmera, uma Nikon P510, e vou mostrando como fica em cada caso pra você ter uma boa ideia do que acontece.

Contraste

Em termos gerais, o contraste é a diferença entre as partes claras e escuras de uma foto. Em outras palavras, quanto mais preto for o preto e quanto mais branco for o branco, maior o contraste. O que esse ajuste faz é justamente aumentar ou diminuir a separação entre esses tons. Quando se tem a quantidade correta de contraste, é possível enxergar todos os detalhes das partes claras e escuras das fotos. Quando o contraste é muito baixo, a imagem fica meio apagada. E quando é alto demais, os detalhes ficam ásperos. Veja o exemplo da foto abaixo, onde sentei a mão no contraste.

Repare como as flores vermelhas viraram borrões, os detalhes escuros começaram a sumir e a foto, como um todo, acabou bem mais quente do que deveria. A grama ali ficou verde demais, as portas da estação ficaram sem detalhes e as partes que já estavam estouradas por causa do sol ficaram piores ainda. Veja como aquele trilho ali na direita some, e ele era razoavelmente visível na foto original. Agora, veja como fica com o contraste certo. Ainda não está perfeito porque a gente tem que passar pelo restante dos parâmetros, mas pode reparar que os detalhes estão bem melhores, apesar de a foto ainda estar um pouco chapada.

Saturação

Quando a gente exagera na saturação, a coisa pode ficar selvagem rapidinho. Nesse exemplo aí, eu nem puxei tanto a barra assim. Alguns efeitos que começam a aparecer são a grama de Chernobyl, que parece cheia de urânio, de tão verde; os vermelhos das flores explodem e o tom da pele fica laranja, e olha que eles nem são parentes do ex-presidente americano. Aqui, ainda, soma-se o efeito do alto contraste, que ajuda a explodir ainda mais as coisas.

E o que acontece se eu aumentar só um pouquinho? Aí as cores ficam vivas, porém naturais. Aqui, a diferença entre um ajuste correto e um erro é bem pequeno. A grama ali ainda parece de Chernobyl, mas nem tanto. Existem esses limites que, de vez em quando, a gente tem que lidar.

Vibração

De todos os erros de edição de fotos, exagerar na vibração é um dos piores, e costuma ser o favorito dos influencers. Esse é outro ajuste que povo gosta de sentar a mão sem dó, afinal ele torna a cena justamente isso, vibrante. O truque da vibração é que ela aumenta o contraste entre as cores opostas da roda de cores, que você pode aprender direitinho o que é nesse outro artigo aqui. Nesse caso, o efeito é bem mais dramático do que o da saturação, porque ele força bastante o laranja, que esquenta bem a foto.

Mais uma vez, a pele fica laranja e, nesse caso, como a vibração não afeta tanto os tons médios, mas a cor do rosto e das pernas ficam bem diferentes. Compare com o caso da saturação, que é um efeito bem mais uniforme, porque ele levanta todas as cores e intensidade por igual. A vibração também deve ser usada só um pouquinho, só pra dar aquela esquentadinha extra. Ela é como o tempero, não o prato principal, quando a gente acerta direitinho, junto com o contraste e a saturação, fica assim:

Repare que eu vou de passinho em passinho de um parâmetro pro outro, tomando bastante cuidado porque um exagero em um vira um efeito em cascata que acaba explodindo lá no final.

Textura

Agora, vamos partir para coisas que estão mais na moda, como as texturas e pode ser meio fácil de cometer erros por exagero na hora da edição das fotos, também. Esse parâmetro é muito legal porque ele aumenta o contraste somente nas áreas que possuem texturas. As áreas mais afetadas são coisas como a grama, as flores, troncos de árvores, dobras das roupas e os rostos. Repare como aquelas flores brancas no fundo do jardim e a grama começam a ficar salientes demais.

Quando a gente usa na quantidade certa, puxa os detalhes dessas áreas sem prejudicar o resto, e isso ajuda a melhorar o contraste e a sensação de nitidez. Na foto abaixo, estão todos os ajustes que detalhei até agora, feitos mais ou menos na quantidade que deve ficar no final. O segredo é sempre procurar o equilíbrio, e pode ser que, a cada passo, a gente tenha que voltar e dar uma reajustada em tudo.

Claridade

Esse aqui é bem, mas bem fácil mesmo, de exagerar um montão. A claridade faz um efeito de aumentar bastante o contraste nas áreas que possuem bordas e texturas. Ela não aumenta a saturação, mas trás a tona todos esses detalhes. Note como tudo fica parecendo um desenho, especialmente os contornos do rosto, que deixam de ser naturais. A tentação aqui é que, conforme você vai aumentando a claridade, a foto vai parecendo cada vez mais bonita. Mas dê uma comparada com o original na hora em que estiver editando. Se estiver exagerado, você vai notar na hora.

O ideal é adicionar só um pouquinho, pra dar mais vida ao chão de cimento, à grama, ajudar a escurecer um pouquinho as sombras, dar um poquinho mais de vida aos rostos e tornar as dobras das roupas mais visíveis, mas ainda naturais. Edição de fotos é uma questão de prestar muita atenção em todos os detalhes, e é isso o que mais faz evitar erros. Abaixo, eu coloquei só um pouquinho, veja como ficou.

Nitidez

Esse é mais departamento que é bem fácil de errar, porque a gente é ensinado pela moda vigente que nitidez é tudo na fotografia. Então o sujeito vai lá e e mete a mão na barra de nitidez até o talo. O que acontece é isso aí, a foto acaba ficando toda granulada onde tem muitos detalhes, como nos rostos. Coisas como a grama e o cimento ficam bem ásperos. Aqui até que tá razoável ainda por que a compactação do jpg atenuou um pouco o efeito. Ainda assim, tá bem ruim.

O jeito certo de usar o controle de nitidez é ampliar bem a foto e aumentar só o suficiente até começar a aparecer ruído nas bordas das coisas. Pegue um detalhe meio fino e vá aumentando devagar pra você ver. Esse é um efeito que é difícil mostrar em fotos separas, mas mexendo no app você vê rapidão a diferença. Agora veja como fica quando ajusto a nitidez corretamente. Talvez não dê pra notar numa tela pequena, mas a diferença aparece mesmo na hora da impressão. Nesse caso, precisou só de um pouquinho de nada.

Horizonte torto

Fotografar com o horizonte reto é uma coisa que é realmente bem difícil, e acho que levei quase um ano pra começar a pegar o jeito. Usar o nível da câmera ou do tripé ajuda bem, mas não é 100% garantido, especialmente porque, às vezes, a perspectiva dos prédio pode entortar a vista. Nesse exemplo aqui desse artigo, se você reparar, vai ver que os postinhos ali da cobertura da direita e o coqueiro do jardim não estão verticais. Então a gente tem que corrigir isso.

Nessa foto, por causa do ângulo que eu tava apontando a câmera, os postes e as árvores acabaram ficando abertos pra cima. Então eu dividi o tanto que estava torto pros dois lados até parecer mais natural. Fotos desse tipo são bem difíceis de acertar, e às vezes precisa de olho mesmo. Porém, é a coisa mais comum do mundo o pessoal esquecer de acertar o horizonte. Então, fica esperto com isso.

Mais um exemplo

Só para ilustrar isso tudo com uma foto de paisagem, que é a minha especialidade, na verdade, dê uma olhada nessa foto abaixo, que a edição está completamente errada. Tirei ela com o celular, ainda na Itália. Repare como o azul do céu fica bizarro, os galhos secos ficam meio descolados. Eu não tenho uma boa palavra pra descrever esse efeito, mas parece que a foto ficou cozida demais. Essas coisas são muito, mas muito comuns mesmo em fotos de praia e dias ensolarados.

E veja como fica quando não exageramos na edição. Na verdade, eu até tirei um pouco da saturação e reduzi um poucos os pretos na base do histograma pra criar esse visual esfumaçado, que eu gosto bastante e que dá uma sensação de muita calma, ao contrário de fotos com excesso de vibração. Parece uma imagem bem mais refinada ou não? Agora os galhos se fundem ao céu, que tem uma cor natural, e que contrasta bem com a grama por ser uma cor adjacente. O horizonte está correto, nivelado pelo telhado do barracão ali no centro.

E isso porque fiz rapidão, sem prestar muita atenção. Bom, por hoje é isso. Espero que esse artigo te ajude a superar os erros mais comuns (e que quase todo mundo comete) na edição de fotos. Se você gostou do conteúdo, não deixe de me seguir no Instagram, porque eu sempre posto novidades lá. E se você tem interesse por fotografia fineart de verdade, não deixe de conhecer a minha galeria. Comprando qualquer imagem lá, você ajuda (e muito) a manter o trabalho aqui do blog!

Fábio Ardito

Pelo mundo atrás de treta.

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