Escolher a melhor tinta para realizar a sua pintura é um processo que, na maioria das vezes, é extremamente confuso. Isso ocorre porque a própria indústria de tintas não é clara o suficiente na apresentação dos seus produtos, o que cria problemas posteriores, como a falta de capacitação dos vendedores nas casas de tintas.
Todas as vezes que tentei descobrir qual era a melhor tinta para o meu projeto, sempre esbarrei nesse problema de falta de informação. Inclusive, os próprios sites dos fabricantes são péssimos em expor com clareza a linha de produtos. Muitos deles parecem ter a mesma função, e nunca é claro qual deveria ser usado com qual.
Por isso, gastei um bom tempo estudando as linhas da Coral e da Suvinil, que são as lideres do mercado, e cheguei nesse método que vou apresentar nesse artigo. Aqui, você vai aprender a ter uma ideia de onde começar baseado nos materiais e condições do seu projeto, seja um portão, uma máquina, um eletrodoméstico ou até mesmo um carro. Depois, vou te ensinar como escolher todos os produtos de suporte para a tinta ideal para o seu projeto, como o solvente e o fundo adequado.
Para pintura de ferragens e metais em geral, temos duas opções: os esmaltes sintéticos e a linha automotiva. Neste artigo, focarei nos esmaltes sintéticos. Porém, o pulo do gato mesmo é aprender a consultar e usar os boletins técnicos dos fabricantes, que vou mostrar mais pro fim do artigo.
Material
A primeira coisa que você precisa saber é sobre qual material você pretende pintar. Nessa categoria, os esmaltes sintéticos se dividem em dois grupos: metais ferrosos e metais não-ferrosos. Preste muita atenção nessa parte porque ela vai determinar o tipo de fundo necessário para a sua peça. Se usar o fundo errado, a pintura provavelmente começará a descascar em muito pouco tempo e o seu cliente vai ficar put0 com você (ou a esposa, pior ainda!).
Metais ferrosos
Como o nome sugere, são aqueles metais que possuem ferro na sua composição, mas dizem respeito, principalmente, ao ferro fundido e ao aço. O aço, especialmente o 1020, é o mais usado em artigos de serralheria, máquinas e eletrodosméticos. Já o ferro fundido é mais comum em máquinas e objetos decorativos, como lanças de portões. Para saber se o metal que você vai pintar é ferroso ou não, basta usar um ímã como teste. Se grudar, é metal ferroso. Nesta categoria, entretanto, cabe uma exceção, que é o inox. Ele requer um fundo próprio, apesar de ser ferroso. Eu não vou cobrir pintura em aço inox nesse artigo.
Metais não-ferrosos
Também como o nome sugere, são os metais que não possuem ferro. O principal exemplo é o alumínio, mas também existe o antimônio, zinco, cromo, etc. Nesta categoria entra também os aços galvanizados. Isso acontece porque o que conta é o material da superfície, que é o que estará em contato com a tinta. No caso do galvanizado, quem tem que aderir na tinta é o zinco do revestimento. Por isso, mesmo que a peça seja feita de metal ferroso, se ela for revestida por outro metal, tem que entrar na categoria de não-ferroso. Porém, é fácil distinguir o aço comum do galvanizado. O galvanizado tem aquela aparência de telha de zinco que todo mundo conhece.
Já o alumínio, principalmente em portões e esquadrias, costuma ter um acabamento anodizado. Como o anodizado é um tipo de pintura, ele entraria na categoria de repintura. Porém, se for necessário lixar, o acabamento anodizado se solta facilmente. Neste caso, proceda como se fosse alumínio novo. Quando pintar esquadrias de alumínio, lixe muito bem e escolha a tinta para não-ferrosos.
Base água e base aguarrás
Essas são as duas principais categorias de tintas esmalte sintéticas. Uma usa solvente como água e a outra usa aguarrás ou thinner. (Nota: ‘tinta base solvente’ não é um termo correto, do ponto de vista químico, apesar de ser a linguagem corriqueira. Do ponto de vista da química, solvente é tudo aquilo que dilui alguma coisa. Portanto, dizer que uma tinta é base solvente é o mesmo dizer que um círculo é redondo. Por isso, nesse artigo, vou escrever como base aguarrás. Já thinner não costuma ser base para tinta e é um rpoduto que destina-se, principalmente, à limpeza dos materiais).
A principal diferença entre elas, do ponto de vista de aplicação, é que as base água podem ser aplicadas diretamente sobre os não-ferrosos, sem necessidade de fundo preparador. Já as tintas de base aguarrás requerem aplicação de fundo tanto para os ferrosos quanto para os não ferrosos, com exceção da tinta grafite e de algumas outras, como veremos . Outra diferença é que as base água costumam ter tempos de secagem bem rápidos, são mais fáceis de limpar e não deixam cheiro. Em linhas gerais, as tintas à base de água são superiores às de aguarrás.
Por outro lado, existem tintas a base de aguarrás que podem ser aplicadas diretamente sobre metais enferrujados ou metais ferrosos. Então, a sua escolha sobre usar base água ou base aguarrás depende, principalmente do tipo e da condição da superfície.
Base água
Normalmente, precisa aplicar zarcão (já vou falar sobre ele) antes de utilizar essas tintas em metais ferrosos. Em metais não ferrosos, elas podem ser aplicadas diretamente. Exemplos: Coralit Total e Suvinil Esmalte Seca Rápido.
Base aguarrás
Nesta categoria, existem dois tipos: as que podem ser aplicadas em metais enferrujados e as que não podem. As linhas mais convencionais, como a Esmalte Coralar da Coral ou a Esmalte Cor e Proteção da Suvinil pedem uma demão de zarcão sobre metais ferrosos. Já linhas especiais, como as tintas grafite da Coral ou da Suvinil não precisam de uma demão de zarcão. Porém, essas tintas vêm numa única cor: grafite. Daí o nome. Se você quiser pintar diretamente, sem usar zarcão, outras opções são a Hammerite da Coral ou o Contra Ferrugem da Suvinil.
Já quando o assunto é metais não-ferrosos, todas essas tintas a base de aguarrás precisam de um fundo preparador. A Coral costuma indicar o Fundo Galvanizado e a Suvinil indica o Fundo para Galvanizados.
Como escolher entre base água e aguarrás?
O que determina a escolha, no fundo, é qual tipo de metal exposto tem a sua peça. Por exemplo, uma das coisas que costumo restaurar são esses portões basculantes de prédios antigos que as barrinhas são de alumínio e os postes e contrapesos são de aço. Como tem muito mais superfície de alumínio do que de aço para pintar, eu costumo usar a base água porque daí só tenho que passar fundo numa parte menor do portão, que seria o zarcão sobre a parte de aço.
Porém, numa peça unicamente de aço, se o cliente concordar com a cor, eu aplico a tinta grafite. Se o cliente quiser outra cor, aí tenho que escolher entre o Hammerite, que não requer fundo, ou o esmalte convencional com fundo de Zarcão, ou o esmalte a base água também com fundo de Zarcão. A partir da escolha da tinta é que determino os outros materiais.
Como escolher o fundo e fazer a preparação correta da peça
Agora que você sabe qual tinta vai usar, é muito fácil. Basta entrar no site do fabricante e baixar o boletim técnico da tinta que você vai usar. Ali está contida 100% da informação que você precisa para preparar e pintar. Vou mostrar como encontrar os boletins técnicos tanto da Coral quanto da Suvinil.
Boletins técnicos da Coral
Vou usar como exemplo a Coralit Total, que é a minha tinta de uso geral. Para encontrar a página da tinta, basta digitar no google ‘tinta fabricante + nome da tinta’. Por exemplo, se eu quero o Coralit Total, digito ‘tinta Coral Coralit Tital’. Daí é só clicar e ir pra página da Coral:
Agora, é preciso encontrar o boletim técnico. Pra isso, basta rolar a página para baixo um pouco. No caso da Coral é meio chatinho de achar, e costuma começar como ‘bt’. Veja abaixo:
Aí é só clicar no link e abrir o arquivo. Ele contém todas as informações que você precisa saber, então é bom que você leia ele inteiro com atenção. Porém, as principais informações costumam estar na terceira e na quarta páginas. Na terceira página costuma contar as informações a respeito da preparação da superfície e quais fundos usar. Todas essas informações sobre metais ferrosos e não ferrosos estão contidos nessa parte, bem como para madeira e para plásticos.
Neste caso, podemos ver que a Coral recomenda usar o Coralit Zarcão Proferro em metais ferrosos e que não é preciso de fundo em alumínio, galvanizado e PVC novos. O Zarcão, por sua vez, também tem um boletim técnico, e lá constarão os mesmos tipos de informação. Já a quarta página costuma dar informações sobre a aplicação, tais como: tipo de ferramentas, tempo de secagem, demãos, diluição e rendimento.
Nessa página está a receita toda para uma boa pintura. Basta seguir à risca todas as instruções de diluição, inclusive o tipo de solvente e respeitar o tempo de secagem entre as demãos, por exemplo. Não tem erro. Por exemplo, nesse caso o solvente é água, são necessárias duas demãos e o tempo de secagem entre demãos é de 2 horas.
Boletins técnicos da Suvinil
Para encontrar os boletins técnicos da Suvinil, comece procurando no Google igual fiz com a Coral. No caso do Esmalte Cor e Proteção, comece colocando no Google ‘tinta Esmalte Cor e Proteção Suvinil’. Você deve encontrar esse site aqui:
Logo abaixo da foto da lata da tinta, à direita, tem link para ‘Baixar Boletim Técnico’. É só baixar e abrir. Na terceira página estão todas as informações sobre a diluição, aplicação, fundos, etc.
Outros Fabricantes
Outros fabricantes, como a Renner, Sherwin Williams, Eucatex, Lukscolor, etc. devem seguir a mesma lógica. Independentemente de qual marca você optar por usar, sempre verifique o boletim técnico. Lembrando que tanto as tintas quanto os fundos possuem boletins técnicos porque essa é uma exigência da lei. Esses documentos são elaborados por engenheiros químicos e, portanto, são a fonte de informação mais confiável. Não confie em outras fontes como a página da tinta no site do fabricante ou a indicação de amigos. Confie somente no boletim técnico.
Zarcão
Como disse ali em cima, os fundos também possuem boletins técnicos com informações precisas sobre a aplicação. Por exemplo, o Coralit Zarão Proferro tem o boletim técnico a seguir:
Nele vemos que o número indicado de demãos é apenas uma, que o solvente é aguarrás e não thinner (ao contrário do que diz a rádio peão. o resultado com aguarrás é notadamente superior) e que o tempo total de secagem, ou seja, o que temos que esperar antes de passar o esmalte, é de 12 a 18 horas.
Exemplo de aplicação
Para exemplificar bem esse processo todo, vamos considerar o caso que disse ali em cima, do portão que era uma parte em aço e outra em alumínio. Resolvi usar o Coralit Total porque não necessita de fundo para alumínio, como diz o boletim técnico. Então, ainda conforme o boletim, optei por dar uma demão de Coralit Zarcão Pro-ferro na parte de aço. Assim, fiz o seguinte cronograma de aplicação: no sábado a tarde, uma demão de Zarcão na parte de aço. No domingo de manhã, uma demão de Coralit Total em tudo e, à tarde, uma segunda demão. Na segunda fiz alguns retoques, a famosa ‘meia demão’, e pronto.
Se eu tivesse optado por usar um esmalte convencional, o cronograma teria sido o seguinte: na sexta à tarde, demão de zarcão nas partes de aço. No sábado à tarde, uma demão de Fundo Galvanizado na parte de alumínio. Não dá pra dar as duas demãos no mesmo dia porque precisa proteger as partes com fita adesiva. Para isso, tem que esperar o tempo total de secagem. No domingo de manhã daria uma demão de esmalte e, provavelmente, no dia seguinte daria a segunda demão de esmalte. Veja que, de dois dias de trabalho, fui para quatro.
Por isso, veja como é importante escolher as tintas certas. Fazendo assim, o resultado sempre fica bom e com grande economia de tempo.
Esmalte à base de água
Recentemente, pintei diversas peças com esmalte a base de água da Coral. Apesar de a aderência ser realmente excelente, tive problemas de secagem e desgaste prematuro. No caso de uma cabine de jato de areia, que ficou numa área coberta o tempo todo, mesmo após 60 dias depois da aplicação, ainda estava melada. Qualquer coisa que deixasse em cima do gabinete grudava. Depois de mais uns 30 dias, começou a secar de fato. Porém, nas áreas que ocorre atrito entre as mãos e o gabinete, a pintura já se desgastou e apareceu o zarcão do fundo.
Num outro portão que fiz, aconteceu a mesma coisa. Entretanto, como é um portão de área externa, por estar exposto ao sol, secou dentro de umas duas semanas. Porém, já está apresentando marcas de desgaste e a resistência à corrosão não é das melhores. Além disso, o acabamento ficou mais áspero do que o esperado, mesmo para uma tinta fosca. Minha recomendação com essas tintas é para usar com cuidado. Se precisa de um resultado que seque ao toque rápido, num lugar que ninguém tenha acesso e em metais não ferrosos, é uma boa alternativa. Caso contrário, é melhor ir no tradicional. Se for pintar um portão ou um corrimão, por exemplo, é melhor ir no tradicional mesmo.
Recomendações gerais
Agora que você sabe como escolher direitinho qual tinta usar e quais fundos escolher, ficou bem mais fácil. As últimas recomendações que tenho a dar têm a ver com a escolha do fabricante. Independente de qual você quiser usar, compre todos os materiais da mesma marca. Por exemplo, se for usar o esmalte da Suvinil, também use o Zarcão, o Fundo para Galvanizados e, principalmente, a Aguarrás. A razão é que a composição dos produtos muda de um fabricante para o outro, e aí o desempenho final dos produtos pode ser comprometido.
Tintas são pensadas para funcionar como sistema. Você pode estar usando o sistema de pintura da Suvinil ou o da Coral, por exemplo. Se misturar os dois, pode dar problema. A principal incompatibilidade costuma ocorrer com relação ao solvente. Já tive peça que a pintura enrugou toda, mesmo utilizando aguarrás. Só que a tinta era da Sherwin Williams e a aguarrás era de uma marca desconhecida. Principalmente quando o assunto é Zarcão que o pessoal costuma fazer o que não deve. Fique atento e use exatamente o que o Boletim Técnico exige.
Também não dê atenção aos vendedores das casas de tintas. Eles costumam não conhecer o assunto e são cheios do ‘ah, é tudo igual’. Leve a sua listinha de materiais pronta e bem detalhada, e não aceite substituições.
Fala Sbó, tá trabalhando com pintura! Eu continuo trabalhando com as bike aqui no Japão. De um tempo prá cá estou consertando uns quadros de aço também, coisa simples, solda, alinhamento e pintura. O que eu uso na pintura é mais ligado a pintura automotiva, muito legal esse seu trampo, dá pra a gente trocar mais idéias.
Gerson Aisawa
Grande Gerson! Bom te ver por aqui! Rapaz, eu tô fazendo pintura eletrostática tb, copiei os esquemas de um australiano! Dependendo do que vc estiver fazendo aí vai te ajudar!