Se tem um tipo de artigo que sempre dá audiência aqui no blog, é sobre dicas de composição fotográfica. E é bem verdade que a maioria esmagadora do conteúdo de fotografia que a gente tem em português fala mais sobre câmeras do que sobre as fotos em si. Uma coisa que tenho reparado nos artistas gringos é que eles focam justamente no contrário.
Não que o equipamento não seja importante, mas ele é a parte menor de todo um processo criativo e, na verdade, o importante é só que seja adequado. Caras influentes como o Nigel Danson e o Sean Tucker gastam pouquíssimo tempo falando sobre câmeras, e muito mais sobre árvores, caminhos, luzes e paredes de tijolos. E eu acho que isso é uma coisa bem interessante, e entendo porque desperta o interesse de tanta gente. Afinal de contas, o que esses caras ensinam é como se expressar, mais do que fotografar.
A fotografia é expressão
E expressar-se é uma das características mais típicas de todo ser humano. Quando as pessoas conseguem pôr pra fora aquilo que elas têm no seu mundo interior, o negócio vem junto com uma sensação de alívio imenso. E acho que isso é uma das coisas mais legais na fotografia, porque é uma arte que todo mundo pode fazer, e é o que eu ensino aqui no blog. Tanto que o lema aqui é ‘a arte de mostrar o mundo pela fotografia’.
Então, hoje, eu quero falar um pouco sobre uma coisa que vai te ajudar muito com toda certeza, que é aprender a observar melhor as coisas para fazer composições fotográficas mais elaboradas e que façam mais sentido, além de ficarem mais bonitas e chamarem mais a atenção. O artigo vai focar nas principais coisas pra prestar atenção na hora de encontrar coisas legais e posicionar a câmera.
Uma foto bonita nem sempre é uma foto boa
Vamos colocar o primeiro pingo em i aqui nesse negócio de boa composição fotográfica. Uma foto bonita, vistosa, com cores que combinam, numa paisagem bonita, nem sempre é uma boa foto. A gente não pode confundir coisas que chamem a atenção com coisas boas, porque bondade e beleza quase nunca coincidem. No livro ‘Beleza’, o filosófo Roger Scruton argumenta, e com certa razão, que um dos defeitos da fotografia é o culto aos efeitos.
Pode notar, a maioria esmagadora das fotos que a gente vê por aí, especialmente no Instagram, são muito mais baseadas em efeitos do que em mensagem. Porém, isso também é de se esperar, já que, numa rede social, se vive de chamar a atenção, e tudo de maneira muito rápida. Não dá tempo das pessoas pararem para observar as coisas e refletirem sobre a mensagem que está ali. O Roger Scruton coloca a culpa na fotografia, mas isso é meio que culpar a arma pelo crime, e não o criminoso em si. A verdade é que o estilo de comunicação moderno é que é fugaz demais. A fotografia só acompanha essa tendência.
Então, a gente precisa tirar um pouco o pé do acelerador e focar mais em coisas que façam sentido. Também é uma boa hora pra repensar o modo como a gente mostra nossas fotos para o mundo. Mas a internet e as redes sociais são o que tem pra hoje, então vamos lá.
Você é um pintor, a natureza é a tinta e a câmera é a tela
Já defendi várias vezes, tanto aqui quanto nas redes sociais, que a fotografia nada mais é que uma técnica de pintura, afinal o produto é uma imagem numa tela, seja de papel ou de celular. O que muda é o método como essa imagem é criada. Enquanto o pintor manipula os materiais, o fotógrafo tem que achar no mundo o ponto de partida.
Onde quero chegar com isso é que a gente precisa aprender a observar melhor o mundo, com mais calma, e aprender a articular as coisas. Mais ou menos como um pintor imagina uma tela antes de pintar, a gente precisa imaginar a cena e daí procurar no mundo onde estão os materiais que a gente precisa. Daí a gente tem que pensar quais são os lugares, ângulos, horários e circunstâncias pra criar a foto perfeita. De todo modo, existem algumas coisas que a gente pode ficar de olho e que servem de guia na hora de sair com a câmera na mão.
Evitar áreas vazias
Aí, de repente, a gente encontra aquilo que precisava pra fazer a foto que planejava. Será que conseguimos a composição fotográfica perfeita? Só que não é de qualquer jeito que vai ficar bom, ou contar a história que a gente queria. Naquele artigo sobre as 7 dicas de fotografia que eu queria ter aprendido antes, comento bastante sobre a questão da distribuição de peso na foto, e isso é uma coisa que a gente tem que se ocupar na hora de fazer a composição.
Aqui, uma dica muito importante é sempre tentar olhar pra cena de modo a evitar partes vazias, especialmente nos cantos. Uma boa foto, normalmente, tem uma distribuição de peso bem feita. Por exemplo, essa foto abaixo está quase perfeita, mas falta uma árvore no canto direito. Isso aí dá pra resolver fácil cortando a foto, mas se o vazio estiver mais pro meio, não tem conserto. Então é bom tomar cuidado na hora de tirar a foto mesmo.
Muita textura também atrapalha
Essa é outra coisa que sempre insisto bastante aqui nos meus artigos, que é a questão do excesso de elementos em uma cena. Uma das coisas que é fácil de exagerar é colocar muita textura. O problema é que ela cria excesso de contraste local, e acaba chamando muito a atenção para uma região específica. Só que essa atenção não é do tipo concentrada, mas difusa. Essa foto abaixo é um exemplo bem típico. Note que as flores coloridas no canto inferior esquerdo tiram demais a atenção do caminho de pedras e da montanha, porque tem um monte de textura acomodada no canto, e com cor forte.
A textura, nesses casos, acaba sendo uma espécie de destruidora de atenção, como uma armadilha. Ela chama o olho para algum detalhe e em seguida dissolve o foco. Como resultado, o expectador acaba indo prestar atenção em outra coisa. Ou seja, muito cuidado porque as texturas podem transformar a composição fotográfica num verdadeiro pesadelo.
Porém, um bom jeito de usar a textura é espalhá-la de uma maneira que crie um preenchimento na cena e que quebre um pouco o peso do elemento principal. Por exemplo, na foto a seguir, a grama na parte de baixo, ali na horizontal, ajuda a tirar bastante o peso do sol cravado no meio da árvore, e dá um toque realmente especial ao quadro.
Paleta de cores
Esse é outro aspecto que tenho estudado bastante, e talvez seja um dos mais difíceis de conseguir porque ele depende, justamente, de encontrar as condições corretas de luz. E isso é uma tarefa bem difícil porque ela depende de saber encontrar as condições ambientais corretas pra fazer a foto perfeita. Recentemente, no artigo sobre habilidade para tirar boas fotos da natureza, tratei um pouco sobre essa questão de conhecer condições meteorológicas e astronômicas, por exemplo.
Um nevoeiro, uma aurora num determinado dia específico, a estação do ano, a fase da lua e muitas outras coisas influenciam nas cores que a cena é iluminada. Então, é muito importante aprender a observar o ambiente da sua fotografia para identificar quais são as condições que criam a paleta de cores correta. Inclusive, é bom você ir lá dar uma olhada no artigo que explico o que são cores análogas e opostas, pra você ter uma boa ideia do que estou falando.
E aqui não tem jeito, você tem que pesquisar sobre os locais específicos que vai pesquisar. Acho que seria uma boa ideia escrever sobre os fenômenos de iluminação mais comuns, né? Qualquer hora vou falar sobre isso.
Linhas, tendências e ritmo
Mais uma dica muito importante de composição fotográfica é que as fotos precisam ter ritmo, e as linhas precisam fazer sentido. Por exemplo, linhas que divergem fragmentam a atenção do espectador e jogam pra fora da cena. Vamos voltar àquela foto com as flores magenta, que mostrei ali em cima. Repare que o caminho faz uma curva para o alto e para a direita. A montanha está na esquerda, e a linha de horizonte subindo.
Ou seja, é uma foto toda desencontrada, e ainda tem as flores ali sugando o que restou de atenção. Essa é uma foto bonita, mas não é boa, e ela só é bonita por causa da combinação de cores, que eu até suspeito não ser natural. Apesar de que, pela descrição que está no Pixabay, ela foi feita na Islândia, e lá costuma ter essas cores de céu mesmo. Por isso que virou modinha ir fotografar lá.
Agora dê uma olhada nessa outra, que tirei numa cidade chamada Solomeo, na Itália. Note que a cidade forma uma diagoinal com o vale, ao fundo, na direita. Existe uma estrada paralela à essa diagonal e vários outros objetos também nesse sentido. Todas as coisas estão mais ou menos distribuídas por igual, e isso dá ritmo na foto, que é muito importante.
A cidade ali dá uma certa textura, mas ela serve como ponto de partida para uma viagem em direção ao vale. Essa foto faz a gente passear pela paisagem, quase dá até pra pensar numa caminhada ali na estrada. Não é à toa que é uma das fotos que mais gerou engajamento no Instagram, e muita gente ficou bem impressionada com ela.
Sapato de fotógrafo dura pouco
Essas são apenas algumas dicas bem básicas do que a gente pode olhar pra começar uma boa composição fotográfica para as nossas fotos. Apesar de dar pra mexer bastante na edição, a gente sempre precisa do melhor material possível como ponto de partida. Então, a gente tem que aprender a observar tudo, e analisar as coisas do mundo como se fossem pinturas, fazer uma verdadeira crítica de arte na hora e ir mudando as coisas até ficar perfeito. E tem coisa que dá pra mudar, viu. Por exemplo, pra conseguir fazer essa foto, passei por vários lugares que davam pontos de vista diferentes pro quadro, até encontrar esse.
Enquanto um pintor pode fazer rascunhos num papel, o fotógrafo faz é na sola no sapato! Só andando muito e testando muitas coisas diferentes pra entender como achar essas coisas no mundo real. E, claro, como eu disse lá no começo, dominar a câmera é um pre-requisito pra fotografar bem. Também não deixe de me seguir no Instagram, porque eu sempre posto conteúdos um pouco diferentes por lá! Te vejo por lá, e por aqui também! Um abraço!